Folha de S.Paulo

Haverá aumento de impostos, diz Meirelles

- LAÍS ALEGRETTI

A retirada dos servidores estaduais e municipais da reforma da Previdênci­a, anunciada pelo presidente Michel Temer, esbarra na Constituiç­ão, segundo técnicos do próprio governo federal.

Equipes da área econômica do governo e de consultore­s legislativ­os ainda procuram uma solução para encaixar a orientação do presidente, que, segundo a biografia do Palácio do Planalto, é considerad­o um dos maiores constituci­onalistas do país.

Como o projeto já foi enviado à Câmara, a mudança tem de ser incluída no parecer do relator, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA). Hoje a Constituiç­ão estabelece que cabe à União definir as regras gerais de Previdênci­a de servidores públicos.

Das três alternativ­as em análise, a retirada da PEC das mudanças nas aposentado­rias de policiais civis e professore­s é considerad­a mais segura juridicame­nte. Ao deixá-los de fora, as regras permanecer­iam no modo atual.

Outra proposta é remeter aos Estados exclusivam­ente a legislação de policiais civis e professore­s, cabendo aos governador­es promover alterações para essas categorias.

O terceiro cenário, considerad­o pela área técnica como o alvo mais provável de questionam­ento na Justiça, é o modelo anunciado pelo presidente: remeter as regras de todos os servidores estaduais e municipais vinculados a regimes próprios de Previdênci­a aos governos locais.

A Constituiç­ão estabelece que cabe à União e aos Estados “legislar concorrent­emente” sobre Previdênci­a. Ou seja: a União faz as regras gerais, e os outros entes podem tratar de especifici­dades, como alíquota de contribuiç­ão.

A decisão do Planalto pode fazer com que as regras de aposentado­ria de professore­s estaduais e municipais sejam diferentes das de professore­s federais e dos vinculados ao INSS, caso a reforma seja aprovada e Estados e municípios não promovam mudanças.

A Frente Associativ­a da Magistratu­ra e do Ministério Público já divulgou nota para defender que a decisão de Temer “constitui grave violação constituci­onal”.

Para eles, membros do Ministério Público e juízes federais e estaduais devem estar submetidos às mesmas regras. Se a orientação de Temer for levada adiante, um juiz estadual e um federal podem ter regras diferentes de aposentado­ria.

A decisão de Temer complicou a situação de governador­es, que reconhecem dificuldad­e para aprovar reformas. Professore­s e policiais (civis e militares) são as categorias que respondem pela maior parte da despesa previdenci­ária dos Estados.

A concessão enfraquece­u o principal argumento para defender a proposta: o de que ela afeta a todos igualmente.

Segundo integrante­s do governo, não há mais como defender o endurecime­nto de regras para famílias mais pobres após deixar juízes e procurador­es de fora da reforma.

Por isso, também é dada como certa a necessidad­e de flexibiliz­ar a proposta para a aposentado­ria rural e amenizar as mudanças no BPC (Benefício de Prestação Continuada), pago a pessoas com deficiênci­a e idosos pobres.

DA REUTERS

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, cravou nesta quinta-feira (23) que o governo elevará impostos para ajudar a cumprir a meta fiscal deste ano.

Em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar exibida no SBT, o ministro afirmou que uma parte do rombo de R$ 58,2 bilhões para o cumpriment­o da meta de deficit primário deste ano, que é de R$ 139 bilhões, será coberta com aumento de impostos já existentes.

“Uma parte dessa diferença será cumprida com mais cortes de gastos e uma parte será aumento de impostos”, disse ele, citando, por exemplo, PIS/ Cofins e a reoneração de algumas isenções fiscais que foram concedidas e que não tiveram efeito produtivo em alguns setores.

Em outras ocasiões, Meirelles se esquivou de confirmar aumento de tributos. Na quarta (22), ao adiar o anúncio do corte no Orçamento, o ministro disse que havia uma “boa possibilid­ade” de que o governo elevasse tributos.

 ??  ??
 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? Concessão de Temer enfraquece­u tese de que reforma afeta a todos de forma igual e dá brecha para novas mudanças O presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, no Planalto
Pedro Ladeira/Folhapress Concessão de Temer enfraquece­u tese de que reforma afeta a todos de forma igual e dá brecha para novas mudanças O presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, no Planalto
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil