Folha de S.Paulo

‘Itaquerão foi um pepino’, afirma Marcelo Odebrecht

Em depoimento, ex-executivo diz que Mundial e Olimpíada não teriam acontecido sem empreiteir­a

- CAMILA MATTOSO LETÍCIA CASADO BELA MEGALE

COPA-2014

Em depoimento para a Justiça Eleitoral, o ex-presidente do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, usou o exemplo da construção da Arena Corinthian­s para dizer que tinha uma relação de “mendigo” com o governo federal.

O empresário, que está preso desde junho de 2015 por causa da Operação Lava Jato, relatou que a empreiteir­a não tinha interesse em entrar no negócio e só realizou as obras para atender pedidos.

Ele ainda afirmou que pelo projeto inicial o Itaquerão custaria R$ 200 milhões — ao final, o preço ficou em R$ 985 milhões, sem considerar juros dos empréstimo­s feitos.

Marcelo também disse que entrou a contragost­o no projeto da Vila dos Atletas, que abrigou delegações esportivas durante a Olimpíada no Rio, em 2016.

“A gente não queria entrar na Vila dos Atletas. Era um pepinaço! Não queria entrar na Copa. Não queria entrar em estádio”, declarou o empresário ao ministro Herman Benjamin, relator da ação que corre no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e pede a cassação da chapa Dilma-Temer, na eleição de 2014.

“A gente só entrou na Arena Corinthian­s porque o governo tinha prometido financiame­nto para a realização da Copa do Mundo; aí depois não dão. Aí, eu passo uma grande parte do tempo lutando para conseguir o que eles tinham prometido para a gente entrar”, reclamou Marcelo.

E emendou: “Eu era um mendigo, porque eu ia lá [governo] para pedir coisas, na verdade, que eu só entrei porque eles tinham prometido”.

O ex-presidente do grupo baiano afirmou ainda que eventos como a Copa e a Olimpíada não teriam acontecido sem a Odebrecht.

Outra queixa do ex-executivo é que, quase três anos após a realização da Copa, o Corinthian­s ainda não pagou o que deve à empreiteir­a.

“Eu fiz uma coisa que não interessav­a para a gente. Hoje, estou com um pepino, porque a gente tem uma garantia com a Caixa Econômica Federal] e o Corinthian­s não paga”.

Ele detalhou como foram as conversas para que a empresa assumisse a obra.

“Aí tem uma reunião lá e tudo bem, então, vamos fazer o seguinte: vamos transforma­r o estádio do Corinthian­s no estádio da abertura da Copa do Mundo. Aí eu tenho um jantar lá em casa com o [governador] Alckmin, o [na época prefeito de São Paulo]

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