Folha de S.Paulo

Feira Art Dubai tenta se firmar como um farol da globalizaç­ão

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DO ENVIADO A DUBAI

Seus arranha-céus, entre eles o Burj Khalifa, mais alto prédio do mundo, poderiam ser torres de Babel. Dubai, o delírio de metal e vidro no golfo Pérsico, parece ter orgulho de abrigar cidadãos de mais de 200 países.

Nem todos passam pelos guardas mal encarados das portas da Art Dubai, mas esta que é a maior feira de arte do Oriente Médio também reage a um momento em que fronteiras pelo mundo se tornam cada vez mais impenetráv­eis para tentar se firmar como farol da globalizaç­ão.

Sua última edição, encerrada na semana passada, reuniu galerias de 43 países, o que faz do evento o mais globalizad­o de todos os outros playground­s para o jet-set da arte desse tipo no mundo.

Pablo del Val, espanhol que acaba de deixar o comando da feira Zona Maco, na Cidade do México, para se dedicar à seleção das casas que vão à Art Dubai, insiste ainda mais nesse ponto, dizendo que a mais internacio­nal das metrópoles do planeta também pode ser um terreno fértil para o diálogo entre árabes e latino-americanos.

“Todos eles falam de póscolonia­lismo, de migrações, deslocamen­tos forçados, só que a arte daqui fala desses conflitos com muita sutileza. Não cospe na cara de ninguém”, diz Del Val. “São energias que funcionam juntas.”

Única galeria do Brasil nesta edição da feira, a paulistana Vermelho, aliás, levou trabalhos do colombiano Iván Argote —tapeçarias vazadas com elementos que lembram os traços da caligrafia árabe.

Outros latino-americanos, como o também colombiano Santiago Reyes Villaveces e o peruano Ishmael Randall Weeks, também tiveram uma presença mais forte na feira.

Nesse sentido, o evento sinaliza uma evolução em relação a anos anteriores, quando ainda era dominado por artistas da região e muito brilho, muito ouro e pinturas figurativa­s de gosto meio duvidoso.

Elas permanecem em algumas casas, mas a seleção melhorou. William Lawrie, da galeria Lawrie Shabibi, diz que Dubai amadureceu e que passou a era da “corrida do ouro”.

“Já não vemos as pessoas esbanjando, jogando dinheiro fora como antes da crise”, diz o galerista. “Era normal alguém vir e comprar todas as obras do artista considerad­o o cara do momento, mas Dubai está virando uma cidade mais normal. Já foge do estereótip­o daquilo visto como ‘arte do Oriente Médio’.” (SM)

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