Folha de S.Paulo

Jovens agora buscam estabilida­de no trabalho

Fatia dos que querem trocar de emprego em até dois anos caiu de 48% para 34%

- ÉRICA FRAGA

Conhecidos pela inquietude, os jovens da geração do milênio (nascidos entre 1982 e 1998) com trabalho com carteira e alta escolarida­de estão tendo a sua confiança minada pela combinação entre recessão, corrupção e violência.

Essa tendência, mais marcante no Brasil, é indicada por uma queda brusca na fatia dos profission­ais com esse perfil que deseja mudar de emprego rapidament­e.

No fim de 2015, 48% dos jovens brasileiro­s de 19 a 35 anos —também chamados de geração Y— esperavam trocar de trabalho em, no máximo, dois anos. No fim de 2016, essa parcela recuou para 34%.

Embora menos radical, o movimento também foi percebido no mundo como um todo, onde esse percentual caiu de 44% para 39%.

Os dados fazem parte de pesquisas da consultori­a Deloitte que analisam o perfil dessa geração há seis anos. A pesquisa mais recente ouviu quase 8.000 jovens em 30 países, 300 deles no Brasil.

Os participan­tes são profission­ais com, ao menos, ensino superior completo e que, em sua maioria, trabalham para empresas de maior porte (mais de cem funcionári­os).

“Parece que os choques que essa geração viveu recentemen­te geraram uma busca por mais estabilida­de”, afirma Renata Muramoto, sócia da Deloitte Brasil.

Crime, desemprego e corrupção foram elencados, nessa ordem, como principais preocupaçõ­es dos jovens brasileiro­s de 19 a 35 anos entrevista­dos. Em países desenvolvi­dos, terrorismo e tensões políticas ocuparam o topo da lista (desemprego apareceu em quarto lugar).

Segundo Muramoto, as preocupaçõ­es diferentes indicam que a recessão que o Brasil atravessa desde 2014 pode ter contribuíd­o para uma tendência mais marcante de busca de estabilida­de entre os jovens do país.

Foi o que aconteceu com o administra­dor de empresas Vinicius Simas, 24, que afirma que a crise econômica o levou a mudar de atitude.

“Eu troquei de emprego quatro vezes e, de repente, comecei a sentir que precisava

VINICIUS SIMAS

24 anos, administra­dor de empresas adquirir independên­cia financeira dos meus pais em plena crise”, diz.

Sua intenção agora é continuar investindo na carreira, mas na própria empresa onde está empregado, a multinacio­nal do setor de tecnologia Westcon Brasil.

Para Daniela Diniz, diretora de conteúdo e eventos da consultori­a GPTW (Great Place to Work), os jovens profission­ais brasileiro­s estão se tornando mais realistas.

“Eles estão vivendo o primeiro grande choque de suas vidas. É normal que busquem mais segurança.”

Segundo ela, enquetes que a GPTW faz em seu portal revelam que os profission­ais brasileiro­s têm dado preferênci­a a se manter no mesmo emprego e ser promovidos.

Os jovens de até 34 anos representa­m 62% dos funcionári­os das 150 melhores empresas para trabalhar no Brasil (são mapeadas em uma pesquisa anual da GPTW).

“de emprego quatro vezes e, de repente, comecei a sentir que precisava adquirir independên­cia financeira dos meus pais em plena crise

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Eduardo Anizelli/Folhapress O administra­dor de empresas Vinicius Simas, 24 anos

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