Folha de S.Paulo

Cadê o dindim?

-

RIO DE JANEIRO - A feirinha das velharias inúteis não chega a ser uma novidade mas, com a crise, anda bombando. Ocorre na Glória, sempre aos domingos, nas imediações do Palácio São Joaquim, residência do primeiro arcebispo da cidade. Lá pelas 9h o pessoal chega e expõe à venda, no chão, o que sobrou de suas casas: castiçais, porta-retratos, abajures, pratos, talheres, roupas, mesinhas de cabeceira, quadros, espelhos, televisore­s, vitrolas, celulares pré-históricos, LPs arranhados.

Dá tristeza. É um cenário de horror, acrescido pela presença dos moradores de rua que se deitam, em andrajos, nas calçadas do Catete. Segundo levantamen­to da Secretaria de Assistênci­a Social e Direitos Humanos, o número de pessoas que vivem nas ruas do Rio —sobretudo no Centro, Copacabana e Tijuca— triplicou em menos de um ano, batendo em mais de 15 mil.

Ao que parece, Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativ­a, não costuma frequentar a feirinha da Glória nem passear no Catete. Na semana passada ele disse que o Rio corre o risco de uma “convulsão social”. Foi um recado nada sutil, para cobrar celeridade na aprovação do projeto de recuperaçã­o fiscal dos Estados. Em português claro: “Cadê o dinheiro?”.

No melhor estilo da “famiglia”, Picciani lembrou o atraso de salários na área de segurança. Só com policiais civis, em greve há dois meses — apenas os casos mais graves têm sido atendidos—, a dívida chega a R$ 82 milhões. A resposta do governo estadual é a mesma: não há dindim.

Enquanto isso, o governador Pezão —a cada dia mais isolado politicame­nte— segue metendo os pés pelas mãos administra­tivamente: propôs cortar em 30% o salário de funcionári­os da já desmontada UERJ. “Quem não trabalha não pode receber”, reclamou. Como toda a população sabe, nem quem trabalha consegue receber. VANESSA GRAZZIOTIN

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil