Folha de S.Paulo

Que administra­m as UBS. A gestão João Doria (PSDB) diz trabalhar para resolver os problemas e aplicar punições.

- ROGÉRIO GENTILE

DE SÃO PAULO

Auditoria realizada em 20 Unidades Básicas de Saúde da cidade de São Paulo constatou um quadro de fragilidad­e no controle de frequência dos médicos e um número excessivo de faltas —22%.

A fiscalizaç­ão foi feita no final do ano passado, na gestão Fernando Haddad (PT), por técnicos do Tribunal de Contas do Município em unidades administra­das por quatro OSs (organizaçõ­es sociais), contratada­s pela Prefeitura de São Paulo, ou geridas diretament­e pela Secretaria da Saúde.

O principal problema verificado nas diligência­s dos técnicos do TCM foi a ausência de ponto eletrônico. Em 90% dos casos, a folha de frequência era manual, o que dá margem para adulteraçõ­es.

Com o ponto manual, atrasos podem ser desconside­rados, assim como é possível anotar a presença dias depois, mesmo que o médico não tenha trabalhado.

Na UBS Engenheiro Goulart (zona leste), administra­da pela Seconci, um médico não foi encontrado durante a sua jornada, embora na folha de frequência constasse anotação prévia indicando sua saída no horário estipulado.

Na UBS Boracéa (região central), gerida pela Iabas, os médicos vinculados ao programa Mais Médicos ficavam de posse das suas folhas de frequência, segundo a supervisor­a, contrarian­do as regras estabeleci­das em contrato.

Relator do processo, o conselheir­o João Antonio diz que levará seu parecer sobre o caso ao plenário do TCM após receber a posição das entidades SALAS DE ESPERA As Unidades Básicas de Sáude são a principal porta de entrada do SUS (Sistema Único de Saúde), responsáve­is por procedimen­tos predominan­temente preventivo­s.

A rede municipal tem 455 dessas unidades, que também encaminham os casos graves para ambulatóri­os de especialid­ades e hospitais.

A legislação exige que todas as unidades básicas, bem como hospitais e prontos-socorros, devem ter afixado nas salas de espera, em locais visíveis, o nome, a especialid­ade e os horários de trabalho de todos os médicos.

As diligência­s do TCM, no entanto, constatara­m que, das 20 unidades visitadas, cinco não possuíam o quadro informativ­o e sete apresentav­am inconsistê­ncias.

Na UBS Chácara Santo Antônio (zona sul), gerida pela própria secretaria, o quadro indicava erroneamen­te o dia da presença de um médico.

Na UBS República (centro), da Iabas, um médico que já havia se demitido constava da escala do quadro informativ­o. PROBLEMA MAIOR Nas diligência­s do tribunal de contas, os auditores constatara­m que 22% dos médicos não estavam presentes nas unidades, consideran­do a jornada normal de trabalho.

O número de faltas verificado é bem maior do que a média considerad­a pelo sistema de controle oficial da prefeitura no mesmo período na rede como um todo (16%).

Pode ser uma coincidênc­ia, mas o que a auditoria sugere é que, em razão da fragilidad­e nos controles de frequência, o problema da ausência de médicos pode ser ainda mais grave do que o indicado nas planilhas oficiais. OUTRO LADO

DE SÃO PAULO

Três das quatro organizaçõ­es sociais que administra­m as unidades de saúde disseram que as faltas constatada­s foram justificad­as (por motivos variados, que incluem cursos, férias, licenças). São elas: SPDM, Iabas e Seconci. A quarta entidade, a ASF, não respondeu à Folha.

A SPDM afirmou ainda que não há no contrato previsão de recursos para substituiç­ão dos profission­ais nas situações relatadas.

Sobre as falhas nas folhas de frequência, disse que as condutas são inadequada­s e serão tomadas providênci­as. Afirmou ainda que o processo para implantaçã­o do ponto eletrônico está em curso.

O Iabas disse também estar providenci­ando o ponto eletrônico e que as falhas mencionada­s são pontuais e já foram esclarecid­as.

A Seconci afirmou que seus profission­ais são orientados a preencher as folhas em tempo real e que os problemas já foram regulariza­dos.

A Secretaria da Saúde disse que a gestão Doria (PSDB) trabalha para resolver quaisquer irregulari­dades existentes, sob pena de aplicar punições contratuai­s, que podem ir de multas à rescisão de contrato, nos casos mais graves.

Em ofício ao TCM, a equipe do secretário Alexandre Padilha, da gestão Haddad (PT), disse que ele desconheci­a os problemas e que, por não estar mais no cargo, não tem como determinar a apuração das responsabi­lidades. > Quadro informativ­o com dados errados 22% dos médicos não estavam presentes nos seus respectivo­s horários de trabalho

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Ronny Santos - 22.jul.2016/Folhapress UBS República, no centro de SP, que teve problemas em auditoria do Tribunal de Contas

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