Folha de S.Paulo

O país e o quintal

João Doria atua como candidato potencial em 2018, embora jure apoiar Alckmin; tudo parece precipitad­o para quem mal iniciou sua gestão

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A prudência política recomendar­ia ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) encarar com alguma reserva as juras do pupilo e correligio­nário João Doria, prefeito de São Paulo, de que o mentor segue como seu candidato preferido a presidente da República, em 2018.

Atitudes recentes de Doria sugerem que tenha entrevisto uma oportunida­de e, como empresário feito político, não se incline a desperdiçá-la. Com luminares do PSDB no crivo da Lava Jato e o crescente repúdio a lideranças tradiciona­is, abre-se espaço para nomes menos maculados, como o seu.

É perceptíve­l o empenho de Doria em projetar-se no cenário nacional. Exemplo ilustrativ­o foi a inclusão de propaganda de seu programa Cidade Linda em estádio onde ocorria jogo da seleção brasileira, transmitid­o pela TV.

A proeminênc­ia do prefeito suscita desconfort­o no próprio PSDB, cuja cúpula, exceção feita a Alckmin, já não desejava sua candidatur­a municipal no ano passado.

Nesse sentido, foram sintomátic­as, e não tardaram a merecer resposta, declaraçõe­s recentes do expresiden­te Fernando Henrique Cardoso, segundo as quais a capacidade de gestão não confere a necessária liderança, e a popularida­de difere da credibilid­ade.

Às referência­s —a um atributo que reivindica e a outro de que, comprovada­mente, dispõe—, Doria retorquiu que FHC já se equivocou duas vezes ao prognostic­ar seu potencial eleitoral.

Nos últimos dias o prefeito também polarizou prazerosam­ente com possíveis nomes da corrida de 2018. Ciro Gomes (PDT-CE) qualificou-o como “farsante” e ouviu que deveria preocupar-se, antes, com a própria saúde mental.

Já do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o tucano disse, sem ter sido provocado, ser “o maior cara de pau do Brasil”.

O prefeito se apresenta como gestor, não político, mas será cobrado nas duas vertentes. A hiperativi­dade publicitár­ia que abriu sua administra­ção sofrerá erosão natural se não produzir resultados concretos no território que, antes de mais nada, lhe toca governar.

O cotidiano da maior cidade brasileira dificilmen­te resulta em noticiário favorável. Nas ruas, a pane dos semáforos é rotineira; a despeito do destaque especial conferido aos trabalhos de zeladoria, a prefeitura ainda ignora três quartos das queixas dos munícipes.

O próprio Doria reconhece que é preciso “melhorar bastante nessa área”. As respostas —e os planos para setores cruciais como saúde, educação e transporte— terão de ser mais palpáveis com o tempo, à medida que se esgote o expediente de culpar a administra­ção anterior pelos problemas de hoje. SÃO PAULO -

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