Folha de S.Paulo

Futuro monumento

-

RIO DE JANEIRO - Há dias, Ancelmo Gois, no “Globo”, propôs que o Posto da Torre —o posto de gasolina de Brasília que, há três anos, deu origem e nome à Operação Lava Jato— fosse tombado pelo patrimônio histórico. A ideia seria transformá­lo em monumento nacional, em memória da luta para limpar o país dos executivos da Petrobras, empreiteir­os, lavadores de dinheiro, governante­s e políticos que, só neste século, roubaram pelo menos R$ 20 bilhões e levaram o país a uma crise como nunca antes.

Não sei se a proposta de Ancelmo terá futuro, mas sou a favor dela. Se o posto se tornar monumento, fará jus a verbas para funcioname­nto e manutenção. Para isso, terá de deixar de vender gasolina, calibrar pneus ou servir hambúrguer­es, mas estas nunca foram suas atividades preferenci­ais —a própria lavagem de carros, apesar do nome, jamais foi praticada ali. Em compensaçã­o, guias conduzirão os visitantes às salas onde se urdiram os primeiros golpes contra a economia e as instituiçõ­es.

Como ponto subitament­e promovido a atração turística, o posto não poderia ter melhor localizaçã­o. Fica no começo da Asa Sul, perto de um setor hoteleiro e a apenas três quilômetro­s do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do STF —redutos de vários protagonis­tas e coadjuvant­es do esquema.

Um dia, no futuro, os guias contarão aos incrédulos visitantes que, apesar de ter sido criada para fins até patriótico­s —desmascara­r as propinas distribuíd­as aos políticos para que estes fizessem passar emendas que permitiam a certas empresas economizar ou lucrar bilhões, sangrando as necessidad­es da nação—, a Lava Jato foi combatida pelo presidente e seus ministros, cinco ex-presidente­s, os partidos em peso, quase todo o Congresso Nacional e até por alguns togados.

A seu favor, só as pessoas de bem. ANTONIO DELFIM NETTO

ideias.consult@uol.com.br

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil