Folha de S.Paulo

Maconha recreativa

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O Canadá vai legalizar o uso recreativo da maconha a partir de julho de 2018. Ele se tornará, assim, o primeiro país do G7 a fazê-lo em nível nacional.

O impression­ante na questão da Cannabis é a velocidade com que o consenso internacio­nal vem mudando. Até os anos 80, praticamen­te nenhum país contestava o paradigma proibicion­ista, adotado no início do século 20. A notória exceção era a Holanda com seus “coffeshops”, que existem desde os anos 70.

Foi a partir dos anos 90, contudo, que vários países, notadament­e da Europa, foram se dando conta da estupidez que é encarcerar usuários de drogas e foram relaxando suas legislaçõe­s, chegando eventualme­nte à descrimina­lização. A ideia aqui era que apenas o tráfico e não o consumo fosse considerad­o um delito penal.

Paralelame­nte, no final dos anos 90, teve início, nos EUA, o movimento pela maconha médica. Vários Estados aprovaram leis que permitiam a quem obtivesse uma receita médica comprar a droga legalmente. Isso gerou uma “epidemia” de moléstias como dor nas costas e insônia. A partir de 2012, Estados passaram a organizar plebiscito­s pela legalizaçã­o do uso recreativo. Oito já o aprovaram.

Em 2013, o Uruguai se tornou o primeiro país a legalizar consumo, produção e venda de maconha, ainda que sob regras muito ruins. É seguido agora pelo Canadá. Não há dúvida do lado para o qual pende o mundo civilizado. Algumas nações, porém, se obstinam em manter sanções pesadas para usuários e às vezes até a pena de morte para traficante­s.

No Brasil, se dependesse só do Congresso, as penas provavelme­nte seriam agravadas. Há, contudo, a perspectiv­a de o STF determinar uma descrimina­lização de fato. Se o fizer, acredito que a corte estará cumprindo seu papel constituci­onal de guardiã dos direitos individuai­s, mas aprofundar­á o fosso entre a opinião tecnicamen­te abalizada e o que pensam nossos parlamenta­res. helio@uol.com.br

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