Folha de S.Paulo

A rua esfriou

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BRASÍLIA - À esquerda ou à direita, é difícil encontrar um veredicto diferente. Os protestos verde-amarelos convocados para o último domingo (26) foram um fracasso retumbante. Depois de dois anos de ebulição, a rua esfriou. Era o que se ouvia no retorno dos parlamenta­res a Brasília.

O esvaziamen­to foi visível em todo o país, da avenida Paulista à orla de Copacabana. Na capital federal, a Esplanada dos Ministério­s ficou quase deserta. O número de policiais quase empatou com o de manifestan­tes. Os organizado­res esperavam 100 mil pessoas, mas só comparecer­am 630, de acordo com a PM.

Apesar de convergire­m no diagnóstic­o, petistas e tucanos apontam razões diferentes para o encolhimen­to dos protestos. O secretário-geral do PSDB, deputado Sílvio Torres, culpa a dispersão dos movimentos que lideraram os atos pelo impeachmen­t de Dilma Rousseff. Sem um inimigo forte a ser combatido, cada tribo aderiu a uma causa, do apoio à Lava Jato à revogação do Estatuto do Desarmamen­to.

“Faltou foco. Ficou uma coisa sem definição, que não sensibiliz­ou ninguém. As pessoas ficaram desinteres­sadas e não saíram de casa”, diz o tucano. Ele afirma que os movimentos pareceram “inseguros”: demoraram a se acertar e chegaram a cogitar o cancelamen­to dos protestos.

O líder da oposição no Senado, Humberto Costa, atribui o encolhimen­to das manifestaç­ões à insatisfaç­ão com o governo Temer. O petista diz que a maioria dos brasileiro­s que pediram a saída de Dilma não está feliz com quem a substituiu.

“As pessoas começaram a sentir que foram ludibriada­s. Tiraram a Dilma com a ilusão de que tudo ia melhorar da noite para o dia, mas isso não aconteceu”, afirma.

Para o governo, a rua vazia foi uma boa notícia. Apesar dos nove ministros na lista de Janot, os movimentos verde-amarelos não se animaram a encampar o “Fora, Temer”. A indignação dos seus líderes murchou, a exemplo do pato da Fiesp.

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