Folha de S.Paulo

Entregas custam R$ 1.500, afirmou réu para juiz

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DE SÃO PAULO

Mais notável operador nos primeiros anos da Lava Jato, Alberto Youssef tinha funcionári­os destacados para entregas de dinheiro “em todo o Brasil”. Ele disse que fazia o caixa dois de empreiteir­as e costuma descrever entregas de dinheiro vivo sem especifica­r se eram pagamentos para campanha ou não.

Um dos funcionári­os, o policial Jayme Alves de Oliveira, chamado de Jayme Careca, se tornou conhecido na primeira “lista de Janot” devido a uma planilha de pagamentos chamada “Transcarec­a”. Jayme afirmou em depoimento que ganhava de R$ 1.000 a R$ 1.500 por entrega feita. Youssef disse que cobrava da empreiteir­a OAS o percentual de 3% sobre o valor dos depósitos feitos.

Ele chegou a afirmar à Justiça que providenci­ava entregas em “quaisquer lugares” do país que fossem determinad­os, quando trabalhou com a OAS. A origem dos recursos, afirmou, eram contratos fraudulent­os de consultori­a firmados com empresas suas pelas construtor­as.

Outro de seus funcionári­os, Rafael Ângulo Lopez, que virou delator, disse que fazia entregas de até R$ 600 mil e que, “dependendo da pessoa”, elas aconteciam até três vezes por semana. Lopez também disse que viu políticos retirando dinheiro em um escritório de Youssef em São Paulo, como o ex-deputado Pedro Corrêa, do PP.

O doleiro descreveu ainda triangulaç­ões no exterior para que os recursos de caixa dois fossem disponibil­izados no Brasil. EMPRESAS ‘NOTEIRAS’ As construtor­as também cometiam uma série de irregulari­dades para “comprar” dinheiro em espécie.

As investigaç­ões e os delatores apontaram que elas usavam serviços de operadores chamadas de “noteiras”, que forneciam notas fiscais de serviços inexistent­es e, com isso, geravam dinheiro vivo, mediante uma comissão de cerca de 20%.

O caixa dois na Lava Jato também ocorria por meio de quitação direta de contratos indiciados por líderes de campanha. Os exemplos mais conhecidos foram os pagamentos diretos, a mando do PT, do marqueteir­o João Santana pelo estaleiro Keppel Fels e pela Odebrecht.

Ex-executivos da Andrade Gutierrez também afirmaram que a construtor­a bancou a contrataçã­o da agência de comunicaçã­o Pepper Interativa, para o PT.

O partido vem sustentand­o que os pagamentos de campanha foram legais.

(FB)

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