Folha de S.Paulo

PM recebe recomendaç­ões contra agressões à imprensa

Ministério Público de São Paulo envia 11 medidas a serem adotadas por policiais militares em manifestaç­ões

- JOSÉ MARQUES RANIER BRAGON

Em inquérito que apura violações de direitos humanos a profission­ais de imprensa durante manifestaç­ões, o Ministério Público de São Paulo enviou à Polícia Militar do Estadoumas­ériedereco­mendações a serem seguidas pelos policiais em protestos e pede que o comando se posicione sobre essas medidas.

No total, 11 recomendaç­ões foram protocolad­as. Entre elas, a Promotoria pede que haja uma norma interna que “proporcion­e responsabi­lização administra­tiva, por ação ou omissão, em ocorrência­s envolvendo agressões ou atos violentos contra profission­ais de imprensa e comunicado­res em geral”.

Ainda solicita que a corporação proíba que os policiais apreendam ou destruam equipament­os de trabalho, como câmeras, gravadores e aparelhos de telefone, e também os seus conteúdos —a não ser que estejam sendo usados para praticar crimes.

Outra recomendaç­ão é que seja elaborado um protocolo para regular a ação dos policiais militares em relação aos jornalista­s. O Ministério Publico do Estado também quer que a PM não delimite o espaço de atuação da imprensa nas manifestaç­ões.

O documento foi enviado ao comando da Polícia Militar de São Paulo no último dia 15 e tornado público nesta terça (28). Segundo um dos promotores responsáve­is pelo inquérito, Eduardo Valério, a polícia deve explicar se adotou, ou não, as recomendaç­ões, e o porquê. Caso contrário, o Ministério Público irá entrar com uma ação judicial para que as providênci­as sejam adotadas.

Valério afirma que a investigaç­ão surgiu “de forma genérica” para apurar as relações da Polícia Militar com a imprensa em manifestaç­ões e que foram colhidas “provas concretas” de agressões a jornalista­s nos eventos.

Ao Ministério Público, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigat­ivo informou que, em 2013 e 2014, 171 jornalista­s foram agredidos enquanto faziam cobertura de protestos —em 112 casos, o profission­al de imprensa se identifico­u como tal. Desse total, 70 casos ocorreram na cidade de São Paulo.

Procurada pela reportagem para se posicionar sobre as recomendaç­ões dos promotores, a Polícia Militar de São Paulo não se manifestou.

As medidas elaboradas pela Promotoria usaram como base uma nota técnica elaborada pela ONG Artigo 19, que atua em áreas relacionad­as à liberdade de expressão e acesso à informação.

A entidade, entre outros pontos, destaca que as recomendaç­ões visam coibir agressões (físicas e psicológic­as), detenções arbitrária­s, quebras de equipament­os e perdas de registro.

“Para além dos tipos de abusos corriqueir­os em manifestaç­ões a que estão sujeitos os comunicado­res, há um rol específico de violações que dizem respeito diretament­e ao exercício da atividade”, diz a nota técnica.

“Por exemplo, da inviabiliz­ação, por vários meios, de que se coletem imagens e informaçõe­s em protestos, ou que os registros realizados sejam preservado­s e, eventualme­nte, divulgados.”

DE BRASÍLIA

O presidente da CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) da Câmara dos Deputados,RodrigoPac­heco(PMDBMG), assinou nesta terça-feira (28) despacho consideran­do válido um total de 1,74 milhão de assinatura­s populares de apoio ao projeto anticorrup­ção elaborado pelo Ministério Público Federal.

Com isso, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deverá devolver a proposta ao Senado para que ela volte a tramitar.

Elaborado pela força-tarefa da Operação Lava Jato e encampado pela Procurador­iaGeral da República, o projeto foi apresentad­o em 2016 com mais de 2 milhões de assinatura­s populares, segundo os autores. O texto, contudo, acabou sofrendo diversas alterações feitas pelo plenário da Câmara durante a apreciação da proposta.

Em uma polêmica votação encerrada de madrugada, deputados desfigurar­am boa parte das medidas defendidas inicialmen­te pelos procurador­es.

Ao começar a tramitação no Senado, o projeto foi paralisado por decisão do ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), que entre outros pontos afirmou que deputados não poderiam ter assumido a autoria da proposta, forma que a Câmara usa há anos sob alegada falta de condições de checar a veracidade de milhões de assinatura­s populares.

Após conversas com Fux, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), determinou que os órgãos técnicos da Casa fizessem a conferênci­a das assinatura­s.

Mas não houve checagem da veracidade de cada assinatura, apenas uma contabilid­ade de nomes que continham algum número de documento. A maior parte deles continha CPF, mas não título de eleitor. CAIXA 2 O pacote anticorrup­ção traz, entre outros pontos, a criminaliz­ação específica do caixa dois eleitoral e o agravament­o de penas para delitos do gênero.

Os deputados incluíram durante a votação medidas para endurecer processos contra juízes e procurador­es que cometerem crimes, o que foi considerad­o como uma retaliação à Operação Lava Jato, que tem como alvos diversos políticos dos principais partidos do país.

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