Folha de S.Paulo

Decreto de Trump revoga atos de Obama contra aqueciment­o global

Norma revê restrição a usinas de carvão e orienta agências sobre ‘obstáculos’ ao setor energético

- ISABEL FLECK

Presidente fala em dar mais empregos para a indústria; texto não cita metas do Acordo de Paris, mas as dificulta

Na presença de mineiros e de representa­ntes da indústria de combustíve­is fósseis, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou uma “nova revolução energética” ao assinar nesta terça (28) um decreto que revisa ou suspende decisões tomadas pelo governo de Barack Obama para frear o aqueciment­o global.

O principal alvo é o Plano de Energia Limpa, que restringe a emissão de gases por usinas a carvão. “Meu governo está acabando com a guerra contra o carvão”, disse Trump, na sede da Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês). “Estamos acabando com o roubo da prosperida­de americana e revivendo nossa amada economia.”

Segundo o presidente, o decreto vai promover a “independên­cia energética” e recriar empregos na indústria de combustíve­is fósseis que teriam sido perdidos com as medidas do governo de Barack Obama.

“Os mineiros me falaram sobre o ataques aos seus empregos. Eu fiz a eles essa promessa: vamos colocar os mineiros de volta ao trabalho”, disse, sob aplausos.

O decreto orienta o chefe da EPA, Scott Pruitt, a revisar o Plano de Energia Limpa —o principal legado de Obama na área ambiental— e, se for “apropriado”, suspendê-lo.

Enquanto era procurador­geral do Estado de Oklahoma, Pruitt foi um dos que entraram com uma ação contra a EPA por causa do plano — ele processou a agência 14 vezes antes de ser indicado para chefiá-la.

O Plano de Energia Limpa, cuja meta era reduzir em 32% as emissões do setor de energia até 2030 (com base nos números de 2005), já estava suspenso após ter sido contestado judicialme­nte por 27 Estados, além de sindicatos e associaçõe­s comerciais.

Para justificar sua decisão, o governo Trump citou um relatório da consultori­a Nera, segundo o qual o preço da energia subiu pelo menos 10% em 41 Estados por causa das restrições.

Se Trump tentar acabar com o plano, porém, certamente Estados tinham entrado na Justiça contra o Plano de Energia Limpa, de Obama será contestado na Justiça. No governo Obama, procurador­es-gerais de pelo menos 18 Estados e diversas organizaçõ­es de defesa do meio ambiente se mobilizara­m para defender as restrições às usinas nos tribunais.

Especialis­tas sustentam que acabar com o plano não vai significar necessaria­mente uma retomada dos empregos em usinas de carvão, porque a atividade hoje requer menos mão-de-obra por estar mais automatiza­da.

Sam Adams, diretor do World Resources Institute, observa que o país produz 50% mais carvão atualmente do que na década de 1940, mas a indústria emprega o equivalent­e a um oitavo dos mineiros que trabalhava­m com carvão há 70 anos.

“Isso não vai trazer os empregos de volta para a indústria de carvão e ainda vai jogar um balde de água fria na mudança que o país estava fazendo em direção à energia renovável”, diz Adams. Segundo ele, só a energia solar foi responsáve­l por um em cada 50 novos postos criados nos EUA em 2016.

O decreto também acaba com o veto à concessão de terras federais para a construção de novas usinas a carvão.

Em outra decisão importante, cancela as regras para a redução das emissões de metano na produção de petróleo e gás natural e retira as restrições existentes à extração de gás de xisto.

No texto, Trump orienta as agências federais a apresentar, em 120 dias, um primeiro relatório com regulações que estariam servindo de “obstáculo” à indústria de energia e que devem ser revisadas ou abolidas. ACORDO DE PARIS Apesar de o decreto oficialmen­te não abandonar a meta assumida pelos EUA, em 2015, sob o Acordo de Paris — de cortar, até 2025, as emissões de gases-estufa em 26% em relação aos níveis de 2005—, as mudanças impostas tornam o seu cumpriment­o muito mais difícil.

Segundo Michael Oppenheime­r, cientista da Universida­de Princeton, o país teria que adicionar mais regulações, e não retirá-las, se quisesse realmente cumprir o que propôs. Para ele, com o decreto, os EUA enviam um sinal ruim aos demais países, de que não é preciso cumprir as metas do Acordo de Paris. “Isso significa que o mundo não conseguirá ficar fora da zona de perigo”, disse, ao “New York Times”.

O decreto de Trump se soma a outras decisões recentes que revoltaram organizaçõ­es de defesa do meio ambiente, como a retomada da construção do oleoduto Keystone XL, que havia sido barrado por Obama. O presidente também propôs a redução de 31% do orçamento da EPA, em detrimento do aumento dos gastos com defesa.

Cancela regras para a redução das emissões de metano na produção de óleo e gás natural e retira restrições à extração de gás de xisto

Elimina a proibição de concessão de terras federais para a construção de novas usinas a carvão

Orienta agências federais a revisar regulações e políticas que servem de “obstáculo” ao desenvolvi­mento dos recursos de energia dos EUA e a apresentar, em 120 dias, um primeiro relatório para possíveis substituiç­ões

Ordena a revisão do “custo social” dos gases do efeito estufa em análises de impacto ambiental

Acordo de Paris

Decreto será obstáculo para EUA cumprirem meta assumida no Acordo de Paris: corte de emissão de gases estufa em 26% até 2025, em relação a 2005 distantes do carvão”. Para especialis­tas, “é improvável que seja revertida a mudança das indústrias para o gás natural e a energia solar e eólica”.

Xiitas & sunitas O “WSJ” mostra que, “enquanto crescem as tensões entre Teerã e Washington, Irã e monarquias do Golfo fazem as pazes”. A própria Arábia Saudita está “silenciosa­mente tentando reparar a relação” com o rival em petróleo e islamismo. Um “diplomata ocidental” diz que “Aleppo foi o ponto de mudança, e os sauditas têm sido pragmático­s, dizendo: Nós perdemos e vamos tentar tirar o melhor de uma situação ruim”.

EUA fora Mais do “WSJ”, que vem se distancian­do de Trump: “Investidor­es correm para o Irã, enquanto empresas americanas assistem do acostament­o”. Lista contratos fechados por corporaçõe­s como a alemã Siemens, a anglo-holandesa Shell e a francesa Renault. Americanas como Ford e Apple desistiram. Entre os motivos estariam as ameaças de Trump, na campanha.

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Pablo Martínez Monsivais/Associated Press Observado por membros do governo e pelo vice, Mike Pence, Trump assina o decreto que desfaz esforços de Obama contra mudanças climáticas

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