Folha de S.Paulo

Escócia aprova pedido por independên­cia

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A primeira-ministra britânica, Theresa May, assinou nesta terça-feira (28) a carta com que dará início ao “brexit”, a retirada do Reino Unido da União Europeia.

O documento será entregue em mãos às 12h30 de quarta-feira (8h30 em Brasília) a Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, ativando formalment­e o Artigo 50 do Tratado de Lisboa.

O artigo, evocado por May, coloca em marcha a saída britânica do bloco econômico após 44 anos de integração. As negociaçõe­s devem durar até dois anos.

A primeira-ministra conservado­ra irá em seguida discursar no Parlamento pedindo a união do povo britânico —um dia após legislador­es escoceses aprovarem o pedido de um novo plebiscito por sua independên­cia.

Ela dirá, segundo um rascunho de seu discurso posto em circulação pelo governo, que representa­rá “todas as pessoas em todo o Reino Unido” na negociação com a União Europeia.

Nigel Farage, ex-líder do Ukip (Partido da Independên­cia do Reino Unido) e um dos principais entusiasta­s do “brexit”, disse que “depois de um quarto de século gasto em campanha por esse momento, será um dia feliz”. RATIFICAÇíO O envio da carta foi antecipado por telefonema­s a Donald Tusk, à chanceler alemã, Angela Merkel, e ao presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Uma vez iniciada, a saída do Reino Unido dificilmen­te poderá ser interrompi­da. O Artigo 50 não menciona essa possibilid­ade. Acredita-se que seria preciso o consenso de todas as nações do bloco.

O Conselho Europeu, que reúne a liderança dos paísesmemb­ros, deve reagir à carta em até 48 horas. As 27 nações restantes na UE devem aprovar uma estratégia de negociação durante uma cúpula em Bruxelas prevista entre o fim de abril e maio.

A União Europeia quer que o acordo esteja pronto em outubro de 2018, para que ambos os lados tenham tempo de ratificá-lo até março de 2019, o fim do prazo de dois anos, contados a partir da ativação do Artigo 50. CIDADÃOS O “brexit” é resultado de um plebiscito realizado em junho do ano passado no Reino Unido, quando 52% da população votou por deixar a União Europeia.

Um dos principais temas em debate foi a devolução de uma série de poderes, hoje em mãos das autoridade­s europeias, ao Reino Unido. O controle da migração teve especial peso no voto.

Isso inclui os cerca de 3 milhões de cidadãos europeus que moram no Reino Unido, cujos direitos vão depender do acordo que será travado entre o governo britânico e a União Europeia.

O negociador-chefe europeu, Michel Barnier, afirmou na terça-feira que irá defender esses direitos durante o processo. Barnier havia afirmado, na semana passada, que essa seria uma de suas “prioridade­s absolutas”.

Segundo o jornal local “Guardian”, o governo britânico pode determinar que os direitos em discussão valem apenas para os cidadãos europeus que entraram no Reino Unido antes da ativação do Artigo 50.

O Parlamento Europeu, porém, teria planos de vetar qualquer acordo que inclua essa data-limite, ainda segundo o diário britânico.

Guy Verhofstad­t, que chefia as discussões do “brexit” entre os legislador­es europeus, afirmou que limitar os direitos dos cidadãos europeus enquanto o Reino Unido ainda fizer parte da UE seria contrário à lei europeia.

DO ENVIADO A LONDRES

O Parlamento da Escócia aprovou nesta terça-feira (28) a convocação de um plebiscito pela independên­cia do país. No entanto, a realização da consulta popular, prevista para ocorrer em 2018 ou 2019, depende do aval do governo britânico.

A líder escocesa, Nicola Sturgeon, deve pedir a autorizaçã­o à primeira-ministra britânica, Theresa May, nos próximos dias. Não há um prazo para a resposta.

Mas o governo conservado­r de May já sinalizou que impedirá a realização do plebiscito. Londres argumenta que o momento exige mais unidade entre os membros que formam o Reino Unido, e não fragmentaç­ão.

A votação no Parlamento escocês —que aprovou o plebiscito por 69 votos a 59— ocorreu um dia antes de May dar início formal à saída britânica da União Europeia, chamada de “brexit”.

David Mundell, ministro britânico para assuntos relacionad­os à Escócia, afirmou em uma entrevista à rede BBC que a resposta ao pedido de Sturgeon será “não”.

O plebiscito poderia ser adiado pelo governo britânico até o fim do período de transição do “brexit”, o que pode significar que a Escócia não votará pela independên­cia antes de 2020.

Sturgeon afirmou ao Parlamento escocês que já espera a rejeição de Londres e que apresentar­á alternativ­as no fim de abril. Ela não esclareceu, porém, quais seriam suas opções.

“O povo da Escócia deveria ter o direito de escolher entre ‘brexit’ e ser um país independen­te capaz de determinar seu próprio curso.” NOVO CENÁRIO A Escócia já realizou uma consulta similar em 2014, quando a independên­cia foi rejeitada por 55% dos votos.

Mas Sturgeon acredita que, em meio à insatisfaç­ão causada pelo “brexit”, poderá mudar a opinião pública.

O “brexit” foi aprovado por 52% dos eleitores britânicos em junho de 2016, mas 62% dos escoceses votaram pela permanênci­a na UE.

Sturgeon tem afirmado, desde então, que o governo britânico não levará em conta as aspirações da população escocesa. Ela critica, por exemplo, a decisão de May de retirar o Reino Unido do mercado comum europeu.

A líder escocesa diz que essa medida eliminaria milhares de empregos no país. May, por sua vez, acusa a rival de estar obcecada por um “nacionalis­mo divisivo”.

Ambas se reuniram na segunda (27), em um encontro descrito por Sturgeon como “cordial”, apesar da ausência de garantias de May sobre o plebiscito escocês.

Um levantamen­to recente estimou que 46% dos escoceses são a favor da independên­cia, a proporção mais alta registrada desde que a pesquisa começou a ser feita pelo NatCen, em 1999. (DB) O QUE É O ARTIGO 50? > Dispositiv­o do Tratado de Lisboa que libera a saída unilateral de paísesmemb­ros da União Europeia > Detalhes do processo, que pode durar dois anos, estão descritos no texto > Uma vez iniciada a separação, ela só poderia ser interrompi­da por decisão unânime dos Estados CRONOLOGIA E PRÓXIMOS PASSOS 18.set.2014 Escócia faz plebiscito e decide ficar no Reino Unido, por 55% a 45% 23.jun.2016 Em plebiscito, Reino Unido aprova o “brexit”, a saída da União Europeia 28.abr.2017 Escócia aprova convocação de referendo sobre independên­cia do país 29.abr.2017 Primeira-ministra britânica, Theresa May, ativará o artigo 50 ao entregar carta à União Europeia mar. 2019 Os membros da União Europeia, o Conselho Europeu e o Parlamento Europeu precisam ter ratificado o acordo dois anos após a ativação do Artigo 50. O Parlamento britânico também deve ter direito ao voto Abril de 2019 O Reino Unido já não deve mais fazer parte da União Europeia até esta data

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Christophe­r Furlong/AFP A primeira-ministra britânica Theresa May diante da carta que dará início ao ‘brexit’

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