Folha de S.Paulo

Por reeleição, governo do Paraguai lidera manobra no Senado

Congressis­tas violam autoridade de chefe opositor da Casa, que vê golpe parlamenta­r

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Um grupo de senadores do Paraguai impôs nesta terça (28) mudanças no regimento interno do Senado para conseguir votar uma emenda à Constituiç­ão que libere a reeleição presidenci­al, em sessão paralela que violou a autoridade do chefe da Casa, o opositor Roberto Acevedo.

Acevedo e parte da oposição considerar­am um golpe parlamenta­r a manobra dos aliados do presidente Horacio Cartes e da Frente Guasú, do ex-mandatário Fernando Lugo (2008-2012).

A sede do Senado foi cercada por tropas do Exército, sob a justificat­iva de risco à democracia paraguaia.

As divergênci­as entre o presidente do Senado e os governista­s começaram na manhã desta terça, quando Acevedo marcou para quinta (30) a discussão sobre as alterações no regimento interno.

Um grupo de 25 dos 45 senadores pressionou para que a votação ocorresse na terça. Com a negativa de Acevedo, convocaram uma sessão paralela, chefiada pelo segundo vice-presidente, o governista Julio César Velázquez.

Apesar da presença do presidente e do primeiro vice, Eduardo Petta, Velázquez se declarou no comando da sessão. Após a leitura da pauta, ele e outros 24 senadores deixaram o plenário e conduziram a votação na sala da liderança da Frente Guasú.

As mudanças foram aprovadas por unanimidad­e. Dentre elas, o adiamento para junho da eleição da mesa diretora, que deveria ocorrer até sexta (31), e o fim do poder do presidente do Senado para aprovar ou rejeitar projetos — todos passariam a ser submetidos ao plenário.

A principal alteração, no entanto, é mudar de maioria de dois terços para maioria simples a votação necessária para aprovar leis ou emendas constituci­onais.

Isso permite que o grupo de Cartes, com apoio dos aliados de Lugo, consiga aprovar a reeleição com folga no Senado e na Câmara, onde o presidente tem a maioria.

Acevedo e Petta, porém, consideram que Velázquez abusou de suas prerrogati­vas. “É um ato nulo, nem demos entrada [no projeto]. É um atropelo.”, disse o primeiro.

Eles pediram ao Ministério Público que investigue e puna os senadores. A oposição também apresenta duas ações à Justiça nesta quarta.

A sessão acontece quase cinco anos depois que Fernando Lugo foi deposto em um processo de impeachmen­t de 36 horas por, dentre outros motivos, tentar aprovar a reeleição. Ele, que hoje é senador, faltou à votação.

A sessão desta terça (28) ocorreu sob cerco militar no Senado, embora não tenha sido decretado o estado de exceção —única situação pela Constituiç­ão em que é possível enviar os militares. Horacio Cartes não se manifestou até a conclusão desta edição.

Durante a noite, mais de 800 pessoas se reuniram em Assunção em um protesto contra o que chamam de golpe. Houve manifestaç­ões também em Encarnació­n.

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