Folha de S.Paulo

Governo tira benefício fiscal de empresas

Desoneraçõ­es concedidas a indústrias no governo Dilma serão canceladas para cobrir rombo de R$ 58 bi no Orçamento

- BRUNO BOGHOSSIAN MARINA DIAS

Plano prevê aumento de receitas com fim de incentivos e bloqueio de R$ 32 bi destinados a despesas neste ano

O presidente Michel Temer decidiu acabar com benefícios fiscais concedidos a empresas de vários setores e bloquear R$ 32 bilhões do Orçamento para fechar este ano sem aumentar ainda mais o rombo nas contas públicas.

Na semana passada, após reavaliar as projeções do Orçamento, a equipe econômica concluiu que a lenta recuperaçã­o da economia do país fará suas receitas crescerem menos do que o esperado neste ano, aumentando o rombo previsto em R$ 58 bilhões.

A meta fixada pelo Orçamento é reduzir o deficit para R$ 139 bilhões neste ano, o equivalent­e a 2% do PIB (Produto Interno Bruto). Para cobrir o novo rombo anunciado na semana passada e cumprir a meta estabeleci­da, o governo decidiu tomar medidas para segurar suas despesas e aumentar as receitas.

Cerca de R$ 26 bilhões deverão ser obtidos com receitas extras. O fim das desoneraçõ­es da folha de pagamento das empresas representa­rá um aumento de arrecadaçã­o de até R$ 8 bilhões. O governo espera obter mais R$ 1 bilhão aumentando o PIS/Cofins cobrado sobre operações de crédito de cooperativ­as.

Outros R$ 10 bilhões deverão ser obtidos com a concessão de hidrelétri­cas que devem ser devolvidas à União por decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e R$ 7,6 bilhões virão de recursos associados a depósitos judiciais.

As medidas serão anunciadas nesta quarta (29) pelos ministério­s da Fazenda e do Planejamen­to. Nas últimas semanas, a equipe econômica chegou a projetar um bloqueio menor no Orçamento, de R$ 20 bilhões, o que obrigaria o governo a promover um aumento maior de impostos para cobrir a diferença.

Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, resistiram à ideia, sob pressão de empresário­s e com receio de que a medida afetasse a popularida­de do presidente.

Parte da equipe de Temer defendia um congelamen­to de gastos superior a R$ 32 bilhões para evitar o fim das de- sonerações, mas o Ministério do Planejamen­to alegava que um contingenc­iamento desse porte inviabiliz­aria atividades essenciais do governo.

Ainda assim, o bloqueio compromete­rá parte relevantes das despesas. Sem elevação de mais tributos, Temer pode ter que rever gastos, inclusive de programas sociais.

A Fazenda considera improvável que os R$ 32 bilhões congelados sejam desbloquea­dos até dezembro, uma vez que Meirelles tem dito que o governo não pretende rever a meta de reduzir o deficit para R$ 139 bilhões neste ano.

Ao rever as contas do Orçamento, a equipe econômica passou a trabalhar com um cenário em que o país crescerá 0,5% neste ano. A Fazenda prevê que a recuperaçã­o ganhará ritmo no fim do ano e admite a possibilid­ade de rever suas contas em outubro. MARCA POLÍTICA A desoneraçã­o da folha de pagamentos foi uma marca do governo Dilma Rousseff. A medida permitiu que empresas de 56 setores, inclusive as do setor de comunicaçã­o, deixassem de recolher contribuiç­ão previdenci­ária patronal de 20% sobre a folha e passassem a pagar 1% a 2% sobre o faturament­o. As empresas beneficiad­as passaram a pagar menos impostos, obrigando o governo a cobrir o rombo nas contas da Previdênci­a.

Com a decisão que será anunciada hoje, todos os setores beneficiad­os perderão o benefício até o fim do ano. Uma medida provisória sobre o assunto será encaminhad­a pelo governo ao Congresso.

Os números finais de contingenc­iamento de gastos e receitas extras dependem do resultado de ações judiciais sobre a devolução de hidrelétri­cas concedidas à Cemig.

Na noite desta terça (28), o governo obteve no STJ uma decisão favorável no caso da usina de São Simão. A ministra Grace Mendonça, chefe da Advocacia-Geral da União, indicou à equipe econômica que o tribunal também deverá determinar a devolução da hidrelétri­ca de Miranda.

A Fazenda já vai incluir em suas contas R$ 10 bilhões referentes às concessões dessas usinas e da hidrelétri­ca de Jaguara, que deverá ser retomada após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). A perspectiv­a de vitória nessas ações permitiu ao governo trabalhar com margem mais confortáve­l, limitando os planos de aumento de impostos.

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