Folha de S.Paulo

Com lucro recorde, Sabesp vê fim de crise e aumento de vazamentos

Em 2016, empresa lucrou R$ 2,9 bilhões; estatuto prevê investimen­to de 75% disso em saneamento

- FABRÍCIO LOBEL

Empresa divulgou em balanço que ainda não cumpriu metas no avanço do esgoto no Estado de São Paulo

A Sabesp, companhia de água e saneamento ligada ao governo Geraldo Alckmin (PSDB), obteve lucro recorde de R$ 2,9 bilhões em 2016. Para a empresa, o número é um marco no fim da crise hídrica e financeira que a empresa sofreu em 2014 e 2015.

A divulgação desse balanço, porém, trouxe ainda dados preocupant­es sobre o aumento do desperdíci­o de água nos encanament­os da empresa e o atraso no avanço do esgoto no Estado.

O lucro recorde supera o desempenho da companhia paulista em 2013, quando faturou R$ 1,9 bilhão.

Segundo a Sabesp, três pontos explicam o bom desempenho financeiro: 1) aumento do valor da conta de água em 15,2%, em 2015, e de 8,4%, em 2016; 2) aumento do volume de água faturado; 3) redução da concessão de bônus nas contas dos clientes que economizam água (política iniciada em 2014 e que vigorou até abril de 2016).

O lucro foi comemorado pelo presidente da empresa, Jerson Kelman, uma vez que pelas regras estatutári­as, 75% do lucro deverá ser revertido já neste ano em investimen­tos em saneamento nas cidades em que a empresa atua.

“Ao contrário do que pensam aqueles que supõe erroneamen­te que empresas estatais não deveriam ter lucro, o ótimo resultado de 2016, de R$ 2,9 bilhões, é uma boa notícia para todos, e não apenas para os acionistas”, escreveu Kelman em carta ao mercado.

A companhia é uma empresa de capital misto, controlada pelo governo do Estado. MAIS ÁGUA O ano de 2016 marcou para a Sabesp também a retomada do aumento do volume de água produzido, o que não ocorria nos últimos cinco anos, devido à forte estiagem que secou os reservatór­ios e obrigou a empresa a distribuir menos água no Estado.

Frente ao ano anterior, o aumento de produção de água foi de 9%, chegando a 2,6 trilhões de litros. Mas o volume ainda não alcançou o patamar pré-crise, quando produziu 3 trilhões de litros, em 2013.

O lado negativo de mais água nos canos da Sabesp é que os vazamentos saltaram de 29%, em 2015, para 32%, em 2016. Esse é o pior índice da empresa desde 2012.

Isso ocorre pois, principalm­ente em 2014 e 2015, a Sabesp adotou uma dura política de redução da força com que a água é bombeada pelos canos da Grande SP. A manobra fazia com que menos água vazasse pelas falhas dos canos da empresa. Mas esse racionamen­to teve como efeito colateral deixar milhões de paulistano­s diariament­e sem água em suas casas.

Em 2016, com o gradual aumento da força de bombeament­o da água nos canos, os vazamentos aumentaram. Soma-se a isso, o desgaste que as tubulações sofreram durante as drásticas operações de manobra de pressão. MENOS SANEAMENTO O balanço anual da empresa revelou que a Sabesp não cumpriu as metas que ela própria havia estipulado.

No quesito coleta de esgoto, a companhia atingiu o índice de 79% no Estado em 2016. Mas a meta era a de chegar a 86%. Agora a companhia acredita que essa meta só será alcançada em 2020. Na comparação com 2015, houve o aumento de apenas um ponto percentual do índice.

A cobertura de tratamento de esgoto também avançou pouco, só um ponto percentual e passou de 86%, em 2015, para 87%, em 2016 (a meta era chegar a 88%). Com esses índices, significa que a empresa trata apenas 69% de todo o esgoto que é gerado nas cidades em que atua.

A Sabesp também não atingiu a meta de conectar mais imóveis à rede de esgoto.

Tradiciona­lmente, o setor que mais recebe investimen­tos é o de esgoto, que exige obras mais caras e onde está o maior gargalo no saneamento. Mas a crise hídrica forçou o investimen­to emergencia­l da Sabesp na obtenção, tratamento e distribuiç­ão de água nas cidades paulistas, revertendo esse equilíbrio.

Ainda que tenha anunciado o término da crise, a Sabesp manterá até 2018 mais investimen­tos na área de água do que na de esgoto.

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