Folha de S.Paulo

Tetraplégi­co mexe braço e come sozinho após implante robótico

Projeto americano coleciona avanços na relação cérebro-máquina

- GABRIEL ALVES

Um trabalho publicado nesta terça (28) na revista científica “The Lancet” mostrou, pela primeira vez , que é possível fazer uma pessoa com tetraplegi­a recuperar o controle de um membro e que o utilize de maneira funcional —no caso, comer sozinho.

O estudo que teve esse desfecho começou efetivamen­te em dezembro de 2014, na Case Western Reserve University, em Cleveland (EUA), quando o paciente Bill Kochevar decidiu submeter-se a uma cirurgia para realizar o implante de dois eletrodos no cérebro, na área relacionad­a ao movimento (córtex motor).

Oito anos antes aconteceu o acidente. Kochevar andava de bicicleta na rua em um dia chuvoso. Ele perdeu a noção da distância e não conseguiu frear quando um caminhão dos correios parou para fazer uma entrega. Só restaram movimentos do ombro para cima.

Após o primeiro implante, Kochevar, 53 anos à época, passou por um treinament­o em que aprendeu a mexer uma mão virtual em três dimensões com a mente. Depois de quatro meses é que os pesquisado­res decidiram fazer o implante de 36 eletrodos em seu braço e antebraço direito, já que ele é destro.

Desse modo, com a leitura das intenções cerebrais e uma maneira de executar os movimentos —ao contrair os músculos com os estímulos elétricos—, teria se formado uma espécie de ponte ou atalho sobre a lesão vertebral de Kochevar, permitindo que o cérebro novamente assuma o controle do membro. No fim das contas, o paciente acertou entre 80% e 100% das vezes.

“As pessoas têm que fazer muito por mim: me virar a cada duas horas, me dar água”, diz Kochevar. “Essa pesquisa aumentou minha capacidade de fazer coisas sozinho.”

A empreitada da Case Western faz parte do estudo BrainGate2, que investiga a interface cérebro-máquina com o objetivo de dar independên­cia a quem tem paralisia.

Já foi mostrado em outras ocasiões os avanços propiciado­s por essa tecnologia. Em 2012 foi relatado que Cathy Hutchinson, tetraplégi­ca após um AVC, conseguiu pela primeira vez manusear um braço robótico com a mente. Outro estudo, em 2015, mostrou que Eric Sorto, tetraplégi­co após levar um tiro em uma briga de gangues, também conseguiu a mesma proeza.

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Case Western Reserve University/Divulgação Com eletrodos implantado­s no cérebro e membro superior, americano come purê de batatas

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