Folha de S.Paulo

Tudo é incerto

- TOSTÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

A CBF aproveitou o ótimo momento da seleção para aumentar seu poder, ao fortalecer ainda mais as federações estaduais, cúmplices da entidade. A CBF é o espelho da promíscua política de troca de favores que assola o país. A esperteza se espalha para os gramados. Atletas e treinadore­s só criticam os árbitros quando é contra eles. A favor, tudo é permitido. Pior, no futebol, muitos tratam a trambicage­m como qualidade, inteligênc­ia. O mundo é dos espertos.

Qualquer que tenha sido o resultado e as atuações nos jogos de terça (28), amistosos e pelas eliminatór­ias, em todo o mundo, as seleções mais fortes na Copa devem ser, além do Brasil, Alemanha, França, Espanha e Argentina. Essa se melhorar bastante e se conseguir a vaga, ainda mais se for mantida a suspensão de Messi por quatro jogos.

Na Copa de 2014, sob o comando de Sabella, a Argentina não brilhou, mas adotou uma estratégia eficiente, de fortalecer o sistema defensivo e contar com os contra-ataques iniciados por Messi e Di Maria. Foi vice-campeã mundial.

Alemanha, França e Espanha, por filosofia e por terem excepciona­is armadores, priorizam a troca de passes e o domínio da bola e do jogo no meio-campo. Os jogadores pouco driblam, diferentem­ente do Brasil que chega mais rapidament­e ao gol para aproveitar a habilidade, a velocidade e os dribles dos jogadores do meio para frente. São as caracterís­ticas e as qualidades dos atletas bem aproveitad­as pelos bons treinadore­s que formam o estilo de um time.

Como nada é linear, a Alemanha pode ter na Copa um exuberante driblador, o jovem Sané, que tem jogado muito bem no Manchester City. A França foi a seleção europeia que mostrou mais boas novidades após a Copa de 2014. Além disso, Pogba e Griezmann estão hoje ainda melhores do que eram no Mundial.

Na Eurocopa, o técnico da França, Deschamps, barrou o volante Kanté, melhor recuperado­r de bola do mundo, e recuou Pogba e Matuidi para serem volantes, prejudican­do os dois, que são muito bons quando chegam ao ataque. Depois da Copa de 2014, a França, assim como a Alemanha, trocou o trio no meio-campo (um volante e um armador de cada lado) por dois volantes em linha e um meia de ligação. Prefiro a formação anterior, a mesma usada por Brasil e Espanha.

Rotulada de decadente após os fracassos do Mundial e da Eurocopa, a Espanha tem grande chance de ter um ótimo time na Copa, pois possui um excelente goleiro (De Gea), uma das melhores zagas do mundo (Piqué e Sergio Ramos), dois bons laterais (Carvajal e Jordi Alba) e um excepciona­l trio no meio-campo (Busquets, Thiago Alcântara e Iniesta). Se Diego Costa jogar na seleção como no Chelsea, o ataque melhora bastante, com ele, Davi Silva e Vitolo.

Outras boas seleções europeias, um pouco abaixo das três melhores do continente, são Portugal, Bélgica, Itália e Inglaterra.

Tudo é incerto. Uma bola desviada, perdida, um erro do árbitro, uma dor de cotovelo, a ausência de Neymar contra um forte adversário e tantos outros detalhes imprevisív­eis mudam a história de um jogo, de um campeonato, e são muito mais decisivos que nossos pretensios­os conhecimen­tos.

Independen­temente do que ocorreu na terça, a seleção brasileira vive uma paixão com o torcedor e com o bom futebol. Paixões acabam, sem deixar legados, ou se transforma­m em amores eternos, amizades, lembranças que nunca mais serão esquecidos.

Tudo é incerto. A história não pode ser contada antes dos fatos. Ainda é cedo para conclusões

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil