Folha de S.Paulo

Somos autores de humor porque acreditamo­s que rindo é possível encarar questões complexas de forma cirúrgica

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Fernanda Young se permitiu flertar com diferentes gêneros como autora, escritora, atriz e comentaris­ta de TV; mas foi o humor mordaz de “Os Normais”, série que escreveu com o marido, Alexandre Machado, entre 2001 e 2003, que fez sua fama.

“Vade Retro”, que estreia na Globo em abril, representa um desvio no percurso ao se valer de um humor de contornos góticos e com uma pitada de sobrenatur­al para contar a história de uma jovem advogada (Monica Iozzi) seduzida —sexual e moralmente— por um homem (Tony Ramos) que ela suspeita ser o próprio capeta.

Leia a seguir entrevista com a autora. Folha - A série coloca em dúvida o conceito de bem e mal. Parece ser uma tendência desconstru­ir essa dualidade.

Fernanda Young - Vivemos uma época de conflitos éticos realmente intensos e crer em bandido e mocinho é muito ingênuo. E, no entanto, vemos não só no Brasil, mas no mundo inteiro, uma “luta de partidos”, e acho que realmente é nessa polaridade que mora o perigo. Enquanto perdermos tempo defendendo opostos absolutos, não encaramos a realidade: somos todos sujeitos a “pecar”, ou seja: trapacear, corromper, sermos corruptos. Lidar com essa fragilidad­e é aprender a não cair nessa tentação. Como abordar com humor essa discussão ética? e eficaz. Brasileiro gosta de alegria, mas tem muito o que questionar. Eu e Alexandre [Machado] somos idealistas, realmente nos preocupamo­s em escrever textos que sejam pertinente­s, que possam ser libertador­es, reflexivos, mas que, antes de tudo, sejam de fato engraçados. Uma trabalheir­a danada essa equação. A série pretende mergulhar na temática filosófica do que há além da vida? viável, elas são camufladas. Não temos a petulância de catequizar ninguém, queremos fazer rir, entreter, mas se alguém conseguir ler algo nas entrelinha­s, que bom. Elementos sobrenatur­ais são novidade numa série sua. Quais foram suas referência­s para esse novo componente? Só de falar sobre eles eu tremo de medo. Há no texto e na direção referência­s clássicas do gênero. São Paulo é o cenário da série. Há alguma conotação de “o inferno é aqui”?

A série tem um primor estético apurado, a fotografia mantém a verossimil­hança, mas traz uma filigrana cinematogr­áfica. E, sim, creio que “o inferno é aqui”, seja lá em qual cidade, se você se dedicar a observar o que há de errado. Mas o paraíso também é aqui.

 ?? Ramon Vasconcelo­s/Divulgação ?? Tony Ramos encarna o empresário Abel, e Monica Iozzi, em seu primeiro papel como protagonis­ta, é a advogada Celeste
Ramon Vasconcelo­s/Divulgação Tony Ramos encarna o empresário Abel, e Monica Iozzi, em seu primeiro papel como protagonis­ta, é a advogada Celeste

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