Cirque du Soleil volta a SP e Rio após quatro anos
FOLHA
“Os Corvos” chegam na quinta (30) ao Sesc Pompeia. É um bom agouro: os pássaros pretos dão nome ao espetáculo criado por Luis Arrieta e Luis Ferrón, dois dos coreógrafos mais interessantes da dança contemporânea brasileira.
A coreografia trata de envelhecimento, doença e morte, encarados sem pesar —mas capaz de levar às lágrimas em certos trechos, pela mistura de ternura e impotência dos corpos diante do inexorável.
O espetáculo começou a ser gerado em 2006, quando Luis Ferrón voltou à casa dos pais, já doentes, para cuidar deles até a morte. A mãe, diabética e cardiopata, morreu em 2012, em casa, e o pai, doente de Parkinson, no ano seguinte, no hospital.
A dança se desenrola em um tempo fictício anunciado ao público: das 22h às 22h30, período entre a primeira parada cardíaca do pai de Ferrón e o anúncio do óbito. Nesse buraco das horas, as memórias do corpo e as inversões dos papéis de pai e filho são dançadas pelos dois bailarinos.
“Desde o início, pensei em fazer o trabalho com Arrieta, por sua experiência e pela admiração que tenho por ele. Ele é uma referência para mim, de certa forma faz parte das minhas memórias”, diz Ferrón.
As memórias mais antigas, como aquelas vistas e ouvidas por Ferrón de seus pais definhando, foram buscadas por Arrieta. Assim, o bailarino declama em cena um poema aprendido aos seis anos, na escola, em Buenos Aires.
O poema épico “El Negro Falucho” conta a saga do sol- dado fiel do general José de San Martín, um dos líderes da guerra pela independência da Argentina. “Ele era dessa pessoas frágeis e doentes capazes de fazer coisas incríveis. Asmático, atravessou os Andes de maca para surpreender os espanhóis”, conta Arrieta.
Os corvos bailarinos dançam a ambiguidade: fragilidade e força, infância e velhice, vida e morte —lembrando, conforme Arrieta, que vida não tem contrário: “O contrário de morte é nascimento”.
A figura do corvo também ganha outra dimensão. “O corvo é o mensageiro entre o mundo dos vivos e o dos mortos”, afirma Arrieta.
Outros mensageiros entram em cena, como Caronte, o barqueiro que leva as almas para o inferno, na mitologia grega, e a orixá Nanã, senhora da morte, responsável pelos portais de entrada e saída dos corpos neste mundo.
“O tema é fantástico. Tenho origem indígena, uma cultura que encara a morte de outra forma”, diz Arrieta.
Ferrón, criado em uma cultura em que as pessoas não são educadas para lidar com a morte, diz que a montagem do espetáculo foi também uma forma de exorcização. “Ainda me sinto órfão, mas lido de outra maneira com a perda de meus pais”, afirma.
Dançar, como disse Montaigne sobre a filosofia, é também aprender a morrer. “Há três temas fundamentais na arte: sexo, amor e morte. É disso que estamos sempre falando”, diz Arrieta. QUANDO de 30/3 a 9/4, qui. a sáb., às 21h, dom., às 19h ONDE Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, tel. (11) 3871-7700 QUANTO R$6 a R$ 20; livre DE SÃO PAULO - Depois de quatro anos longe do Brasil, o Cirque du Soleil retornará com novo espetáculo, “Amaluna”, no segundo semestre de 2017.
Fundada há mais de 30 anos, a companhia canadense fará apresentações em São Paulo e no Rio de Janeiro.
“Amaluna” é o sexto espetáculo a ser apresentado em território brasileiro. As datas e o início da venda dos ingressos ainda não foram anunciados.
Em cartaz desde 2012, o show é um “romance acrobático”, com um elenco de 50 artistas e mais de 130 figurinos.