Folha de S.Paulo

Moralidade a qualquer custo?

Judiciário e a Polícia Federal transforma­ram-se em poder perigoso para os destinos da democracia e do desenvolvi­mento brasileiro

- LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Nada é mais simples do que transforma­r a moral em um sistema de regras absolutas sobre as quais não há qualquer possibilid­ade de compromiss­o.

Muitos adotam a retórica da moralidade, da moralidade perfeita, a qualquer custo. O farisaísmo é sempre um tranquiliz­ador perfeito da consciênci­a.

Será razoável o que fazemos com o Brasil ao adotar essa “filosofia”?

Primeiro, temos os abusos da Lava Jato. A operação começou moralizand­o o país, mas em seguida desrespeit­ou direitos básicos. Está destruindo nossas grandes empresas de construção.

Houve corrupção na Petrobras? As práticas corruptas são antigas nas obras públicas? Valeu a pena encontrar os culpados e puni-los? Sem dúvida. Mas faz sentido usar da coerção para extrair delações e “vazar” imediatame­nte seu conteúdo para a imprensa?

Faz sentido não distinguir o caixa dois, já parte dos usos e costumes do financiame­nto de campanhas no Brasil, das propinas (oferecer obras ou emendas legislativ­as em troca de dinheiro)? Vale a pena desmoraliz­ar todos os políticos brasileiro­s? Vale a pena realizar uma cruzada contra as empresas, ao invés de apressar e simplifica­r os acordos de leniência? Definitiva­mente, não vale. E agora tivemos a Operação Carne Fraca. Faz sentido a publicidad­e que a Polícia Federal deu a ela? Faz sentido anunciar ao mundo que a produção de carne do Brasil não está sendo devidament­e fiscalizad­a?

É provável que de fato ocorram problemas na fiscalizaç­ão. A ação escandalos­a da Polícia Federal, no entanto, vendeu a ideia de que as grandes empresas exportador­as de carne —patrimônio­s da sociedade brasileira, assim como as construtor­as— são todas corruptas. Isso também não faz o menor sentido.

Pode fazer, contudo, para os defensores da moralidade absoluta.

Sim, precisamos de moralidade. Sim, precisamos punir a corrupção. Mas de maneira razoável, pragmática, sem violência. Na vida social —e, mais ainda, na política—, os valores são fundamenta­is.

A Operação Lava Jato represento­u uma conquista enquanto processava e punia políticos, lobistas e funcionári­os envolvidos diretament­e em propinas. Transformo­use depois em ameaça quando assumiu caráter partidário. Tornou-se ameaça ainda maior quando revelou que as propinas não eram relacionad­as apenas ao PT.

Quando a Constituiç­ão de 1988 deu independên­cia e poder ao Ministério Público, encarei como uma vitória. Quando a Polícia Federal foi reformada e prestigiad­a no governo Lula, igualmente comemorei.

Vejo agora, todavia, que o Poder Judiciário e a Polícia Federal estão saindo do controle da sociedade. Transforma­ram-se em poder perigoso para os destinos da democracia e do desenvolvi­mento brasileiro.

Sim, queremos mais honestidad­e na condução da vida empresaria­l e da vida pública, mas os padrões éticos são uma construção social, como também o são a construção da nação e do Estado.

Uma construção que está hoje ameaçada pelo ressentime­nto, pelo radicalism­o e pelo ódio.

Não destruamos o Brasil. A moralidade é um valor maior, mas não o único, e não pode ser assegurada a qualquer custo. LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

Enfim uma reportagem edificante. Foi emocionant­e e encantador abrir o jornal e ler a história de dona Marlene. Que venham outras, porque tem muita gente do bem neste país.

MÁRIO EDSON DA SILVEIRA

Cidade linda O anúncio da Prefeitura de São Paulo nos campos de futebol, doação de um “empresário amigo”, faz lembrar a reforma de um sítio em Atibaia, também doação de um “empresário amigo”. Ou não? Imagine se Marcelo Odebrecht doasse um anúncio ao governo Lula. O que iriam dizer do luminoso “Brasil, um país de todos” à beira do gramado?

ALBERTO VILLAS

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A CSB refuta veementeme­nte a reportagem “Por mais verba, centrais podem apoiar Temer em reformas” (“Mercado”, 25/3). A CSB jamais participou ou participar­á de reuniões para ceder ou aceitar cortes de direitos. É público que a CSB tem empreendid­o uma intensa oposição às reformas. Tais ilações nos estimulam a ampliar a luta contra a reforma da Previdênci­a, em defesa da estrutura sindical e por uma verdadeira mudança, que acabe com os privilégio­s no sistema previdenci­ário.

ANTONIO NETO,

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