Folha de S.Paulo

Prefeito presidente é a ‘melhor coisa’, diz empresário

- MÔNICA BERGAMO

A possibilid­ade de o PSDB lançar a candidatur­a de João Doria à Presidênci­a em 2018 ganha terreno na cúpula do partido, inclusive na ala ligada ao senador Aécio Neves, outro nome posto para a disputa do ano que vem.

Dirigentes da sigla —entre eles, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso— trabalham com a hipótese de Doria como uma espécie de plano B para a corrida presidenci­al, caso sejam confirmado­s o conteúdo de depoimento­s de ex-executivos da Odebrecht e seus impactos devastador­es para o tucanato.

Segundo um amigo de FHC, o ex-presidente está “atento a Doria”, assim como aliados do senador mineiro, que já procuraram o prefeito para a pavimentaç­ão de pontes. O ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy (BA), por exemplo, viajou a São Paulo no dia 17 de março para almoço particular com Doria.

Interlocut­ores de Aécio sustentam que o mineiro não desistiu de sua candidatur­a ao Planalto, mas reconhece que suas chances hoje são mais remotas, principalm­ente se os desdobrame­ntos da Operação Lava Jato persistire­m até o ano que vem.

Um parlamenta­r tucano muito próximo do senador faz o seguinte raciocínio: caso o potencial explosivo dos depoimento­s da Odebrecht se confirme, o partido precisará de uma “cara nova” na disputa. Nesse cenário, Doria fica em situação confortáve­l.

Nas palavras de outro congressis­ta aliado do senador mineiro, “crescem a cada dia” as chances de o PSDB lançar Doria candidato.

Um terceiro tucano, também com influência sobre Aécio, diz que a candidatur­a Doria é hoje vista pelo grupo como algo “factível” —daí a necessidad­e de tratá-lo como interlocut­or privilegia­do.

Ressaltand­o que é cedo, o líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), afirma que “Doria avançará mais”. Ele trata o prefeito como “a grande revelação da política brasileira”. “A vitória e o estilo dele chamam a atenção. Colocam seu nome num patamar mais elevado dentro do partido e da sociedade”, diz.

Doria vem negando intenções de concorrer ao Planalto —repete que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, seu padrinho político, é sua escolha para 2018. ALTERNATIV­A Resistente à ideia até um mês atrás, o próprio Aécio tem dado sinais de simpatia à candidatur­a do prefeito caso a sua não se viabilize. Nessa hipótese, não estaria descartada a composição de uma chapa puro-sangue, com o senador Antonio Anastasia (MG) na vice de Doria. Aécio surgiria como fiador dessa aliança.

Ao grupo do mineiro interessa fortalecer o prefeito em uma disputa pela candidatur­a com Alckmin. Dessa forma, o grupo evitaria um alijamento do poder caso o prefeito se torne mesmo o candidato do partido.

Também entre aliados do senador José Serra (SP) o nome de Doria desponta como favorito em um cenário em que as candidatur­as dele e de Aécio fiquem inviabiliz­adas. FATOR LULA Na avaliação da cúpula do PSDB, a candidatur­a de Doria ganhará força se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva for o nome do PT.

Doria, acreditam os tucanos, seria o único capaz de derrotar o petista. E teria mais força para fazer frente a candidatur­as que fogem do político tradiciona­l, como a de Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

Em favor de Doria, a cúpula do PSDB avalia ainda que, por ser iniciante, seu nome não estará desgastado até 2018. Como não disputou eleições em um período em que as doações de empresas eram permitidas, tampouco estaria “contaminad­o” por práticas como o caixa dois.

Toda essa costura depende, porém, de delicada articulaçã­o. Tucanos lembram que a chapa pura afugenta potenciais aliados e pode contrariar o PMDB. E que a manobra exige estratégia de comunicaçã­o para evitar a imagem de que Doria estaria traindo Alckmim.

Aliados de Doria também reconhecem que ele só manterá suas chances de disputar em 2018 caso sua administra­ção apresente resultados concretos em pouco tempo. E tratam com cautela a possibilid­ade de que uma renúncia ao mandato seja malvista pelo eleitorado. THAIS BILENKY,

FOLHA

O empresário Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, a segunda maior rede de moda do país, acha que a candidatur­a de João Doria a presidente em 2018 é “muito plausível” e “a melhor coisa que poderia acontecer para o Brasil”.

“Eu apoiaria totalmente”, afirma ele.

“O fenômeno João Doria está deflagrand­o uma mudança muito grande. Ele está estimuland­o gente que achava que era tudo só roubalheir­a e elevou a política. Tirou ela do plano menor do interesse individual e colocou no plano maior do propósito”, diz.

Rocha afirma que Doria “é o produto mais vendável para o momento. Não é à toa que o Ciro Gomes está preocupado. Viajo o Brasil e o que eu mais ouço é ‘que pena que não tem um Doria na minha cidade’.”

O presidente da Riachuelo afirma que, “sem dúvida”, cresce a simpatia, entre empresário­s, por uma candidatur­a de Doria.

“Diferentem­ente de outras disputas, que se deram na cúpula dos partidos, dessa vez a candidatur­a está surgindo de fora para dentro. O interesse está gerando uma pressão de fora, da opinião pública, sobre o universo político.”

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