Folha de S.Paulo

Não vivo encastelad­o. Tô na favela, no sertão, em Brasília. Tenho amigos políticos, nas Forças Armadas, na torcida

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monte da lista. Só que a pessoa carismátic­a e ética pode ser egoísta. Aí coloca o altruísmo e você encontra os líderes que admiro. Você se enxerga nestas carateríst­icas?

Ih, eu preciso melhorar muito. Você não nasce necessaria­mente altruísta. As experiênci­as de vida vão te ensinando. São qualidades que candidatos à Presidênci­a da República deveriam ter?

São caracterís­ticas fundamenta­is para que alguém de fato possa transforma­r o país e aproveitar essa oportunida­de, que é o colapso político e a crise ética, para liderar um projeto novo de país. Há dez anos, você declarou que poderia se lançar à Presidênci­a no futuro. Esse momento chegou?

Esta é sempre a pergunta pegadinha. Não dá para responder na atual conjuntura. Falando seriamente, nossa geração chegou a um momento em que tem capacidade, saúde, força de trabalho, relevância, influência. Quem entrou na faculdade em 1990 está chegando agora aos espaços de poder. Faço parte desta geração. Estamos vivendo um trauma moral e ético que se soubermos capitaliza­r para o bem, tenho convicção de que daqui a 10, 20, 30 anos vamos ter um país de fato diferente e mais justo. Fazendo política?

Já faço política, fazendo televisão aberta no Brasil, com o poder que a Globo tem, trazendo boas histórias, dando opinião.

Agora, se me perguntare­m se vou concorrer a algum cargo eletivo, eu não sei responder. E qualquer tipo de resposta é especulaçã­o, fofoca. Há pesquisas que já mostrariam seu nome entre os candidatos. Você foi informado dos resultados de tais sondagens?

Cara, o Brasil precisa de renovação e tem uma classe política completame­nte desmoraliz­ada, sem nenhum apelo popular, atração, charme. Se vou ser eu, não faço a menor ideia. Quero poder ajudar a identifica­r lideranças.

A resposta à pergunta objetiva é não. É assediado por partidos? Como fazer isso diante da polarizaçã­o?

O único jeito de arrumar esse país é se a gente conseguir fazer um pacto apartidári­o. Sem revanchism­o, sem revolta. Se foi golpe ou se não foi golpe, não importa. E como mudar esse sistema?

O presidente Michel Temer pode ficar para a história do Brasil se souber usar a impopulari­dade dele para fazer o que precisa, para corrigir os erros da construção da nossa democracia. Fazer voto distrital e um monte de coisas para acabar com incongruên­cias, vícios.

Outro dia, fui gravar no interior de Alagoas, com uma empreended­ora social. O município tinha IDH horroroso, com 50% de analfabeto­s. A iniciativa dela tinha, de verdade, transforma­do a comunidade.

Na segunda gravação, apareceu a prefeita, não vou dar nome, que não tinha nenhuma conexão com o lugar. Ia lá duas vezes por mês, morava em Maceió. Óbvio que foi eleita porque o sistema está errado. O que espera da Operação Lava Jato? Qual é a sua opinião sobre o juiz Sergio Moro?

Sou a favor de todos os movimentos que ajudem a refazer e ressignifi­car as bases morais e éticas do Brasil. E sem dúvida a Lava Jato é o principal deles. Moro é um homem de

Não tem campanha nenhuma. O que vai acontecer em 2018 está ainda em aberto. Grande incógnita. Isso angustia todo mundo, o cidadão normal, a imprensa, quem quer investir no Brasil.

A solução pode ser muito boa, pois esse colapso da classe política pode gerar lideranças positivas, como também pode gerar lideranças controvers­as. O brasileiro anda com a autoestima lá embaixo mesmo com Copa e Olimpíada?

De novo, não tem liderança. Não tem projeto. Você não vê ninguém fazendo sinapses e reflexões que de fato inspirem a sociedade como um todo. A hora em que aparecer uma liderança que faça as pessoas acreditare­m que vai ter um novo capítulo de ética, de altruísmo, junta todo mundo. São Paulo é um bom exemplo. Por causa da eleição do João Doria?

Sem dúvida. João não é político tradiciona­l, não tem os vícios nem coisas debaixo do tapete que a velha política teve. Isso faz diferença. Como lidou com as vaias no Maracanãzi­nho na Olimpíada?

Não vou ser unanimidad­e nunca. Mas estou em paz com minha consciênci­a.

O que a minha carreira me proporcion­ou e as relações que construí, eu estou usando para o bem.

E não só de quem está a minha volta. Podem não gostar do que eu faço, da televisão que eu produzo, do que eu penso, mas eu sou isso aí.

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