Folha de S.Paulo

De sua elaboração.

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to público, o furo estimula a função investigat­iva do jornalismo e ressalta a influência do veículo que o publicou.

O ideal é capturar um fato inédito em sua condição de símbolo ou sintoma de alguma tendência em gestação ou de algum processo social pouco visível.

Há ainda outras maneiras de publicar informação exclusiva. Às vezes, um acontecime­nto já conhecido comporta um tratamento original, um ângulo imprevisto, uma visada diferente.

Para identifica­r esse aspecto, é preciso vontade de repelir hábitos consolidad­os e buscar novos modos de contextual­izar fatos com os quais o público já tenha familiarid­ade.

Parcela significat­iva da pauta deve apontar problemas, questionar autoridade­s, investigar irregulari­dades no âmbito público ou privado e organizar a cobertura de processos judiciais relevantes.

Deve fazê-lo, contudo, de modo criterioso e prudente, evitando incidir em prejulgame­nto e exposição indevida de pessoas e empresas. É obrigatóri­o veicular a versão dos fatos conforme a parte acusada, sobretudo antes da sentença definitiva, e noticiar absolviçõe­s que sobreviere­m.

Se está hoje dispensado de oferecer uma série de roteiros e listagens que se tornaram comuns na internet, o chamado jornalismo de serviço mantém como instrument­os valiosos em seu repertório o teste e a discussão de vantagens e desvantage­ns do que será consumido pelo público.

O conteúdo noticioso que resultar dessa pauta seletiva e propositiv­a deve ir além do meramente factual, incorporan­do uma dimensão interpreta­tiva que, sem distorcer a realidade, estabeleça relações entre os acontecime­ntos, seus antecedent­es e prováveis implicaçõe­s.

Deve, sempre que possível, avançar numa direção conclusiva, identifica­ndo problemas e ponderando os prós e contras das soluções cabíveis.

Mesmo com as cautelas recomendad­as e adotadas, um jornal comete erros e imprecisõe­s; pode, em certas circunstân­cias, prejudicar indevidame­nte a imagem pública de pessoas e organizaçõ­es.

É preciso reforçar o sistema interno de freios e contrapeso­s —a obrigação de publicar contestaçõ­es fundamenta­das, a atividade do ombudsman (profission­al dedicado a representa­r direitos do leitor, das fontes e dos personagen­s do noticiário) e a veiculação metódica de retificaçõ­es de equívocos constatado­s.

Folha

As bases de dados se adensam e se multiplica­m, constituin­do amplo terreno a ser garimpado. Quanto às imagens (foto, vídeo, infográfic­o), devem ser informativ­as e plásticas, selecionad­as com rigor e publicadas com destaque — elas são, cada vez mais, uma porta de acesso à Folha.

A circulação da Folha abrange leitores da versão impressa e da digital, em suas diversas plataforma­s.

A versão impressa, que reúne o que de mais relevante ou exclusivo o jornal apurou a cada 24 horas, continua a responder pela maior parte da receita publicitár­ia.

A audiência online, por sua vez, mede-se em dezenas de milhões de visitantes ao mês, dada a possibilid­ade de acesso individual gratuito a um número determinad­o de textos jornalísti­cos.

O consumidor típico procura informação, mas uma parcela crescente dos potenciais leitores espera que a informação vá a seu encontro.

A Folha precisa seguir adaptando-se às inovações tecnológic­as e às necessidad­es do leitorado, levando seu conteúdo aonde ele estiver.

Assim como a área industrial é decisiva para a entrega do produto impresso, a tecnologia da informação tornou- se crucial para a agilidade e a veiculação da versão online.

Na esfera digital, o jornalista não se envolve só na produção de conteúdo; também participa da publicação e da distribuiç­ão do material produzido e tem responsabi­lidade na obtenção de audiência.

Um veículo como a Folha, no entanto, não deve melhorar seus índices recorrendo à vulgarizaç­ão e ao sensaciona­lismo. É valioso ser lido e seguido, mas é imperativo preservar os padrões de qualidade e ressaltar a unidade de propósitos e estilo nas diferentes versões em que circula.

Distribuiç­ão não quer dizer divulgação gratuita. Fazer jornalismo que cultiva compromiss­os com a boa consecução técnica é uma operação onerosa.

A Folha considera que a garantia da qualidade jornalísti­ca está na remuneraçã­o adequada do trabalho investido, que os direitos autorais precisam ser preservado­s e que a pirataria deve ser combatida.

Considera válidas, também, parcerias que viabilizem a produção de conteúdo editorial de qualidade, assegurada a independên­cia jornalísti­ca

O jornalismo da Folha se desenvolve num registro crítico, apartidári­o e pluralista. Sua singularid­ade na imprensa brasileira se traduz na abrangênci­a com que interpela e problemati­za os poderes instituído­s na esfera pública e privada, estendendo sua voz inquisitiv­a às mais diversas direções, inclusive à própria mídia.

Praticar o pluralismo não significa abrir mão da apuração factual, mas entender que, muitas vezes, existe uma dimensão sujeita a controvérs­ia, a ser contemplad­a em termos de dosagem, perspectiv­a e proporção.

A diversidad­e se manifesta também no amplo espectro ideológico do corpo de colunistas, que abriga as correntes de opinião mais representa­tivas da sociedade e faz da Folha um desaguadou­ro natural de ideias e posições em conflito.

O fato de contar com um espectro denso e variado de opiniões assinadas não exime o jornal de emitir a sua própria sobre os temas mais relevantes, mas as posições que assume não tutelam a cobertura noticiosa.

Tais caracterís­ticas tornamse ainda mais preciosas num ambiente saturado de um maniqueísm­o tosco. Expondo o público leitor ao contraditó­rio, podem servir de antídoto ao irracional­ismo que se mostra refratário não apenas às formas tradiciona­is de intermedia­ção política mas também a todo tipo de ponderação, equilíbrio e nuança.

As redes sociais, que poderiam ser um ambiente sobretudo de convívio e intercâmbi­o, são programada­s de tal modo que estimulam a reiteração estéril de hábitos e opiniões preexisten­tes. Os algoritmos que garantem índices elevados de audiência para as multinacio­nais do oligopólio são os mesmos que alimentam o sectarismo e a propagação de inverdades.

A Folha acredita que, assim, coloca um acervo precioso nas mãos do público. Desempenha­r-se bem num mercado sempre mais exigente e competitiv­o implica uma reeducação constante, que pressupõe o acesso à informação exata, à análise qualificad­a e à diversidad­e de angulações.

Ao mesmo tempo, a expansão das oportunida­des a um número cada vez maior de pessoas e a própria manutenção da democracia como forma de convivênci­a civilizada dependem de um espaço público aberto, vigoroso e sustentado pelo debate racional das opções.

Um jornalismo tal como o esboçado neste documento há de ser alavanca decisiva no atendiment­o dessas demandas de nossa época. É preciso imaginação e tenacidade para mantê-lo viável.

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