De sua elaboração.
to público, o furo estimula a função investigativa do jornalismo e ressalta a influência do veículo que o publicou.
O ideal é capturar um fato inédito em sua condição de símbolo ou sintoma de alguma tendência em gestação ou de algum processo social pouco visível.
Há ainda outras maneiras de publicar informação exclusiva. Às vezes, um acontecimento já conhecido comporta um tratamento original, um ângulo imprevisto, uma visada diferente.
Para identificar esse aspecto, é preciso vontade de repelir hábitos consolidados e buscar novos modos de contextualizar fatos com os quais o público já tenha familiaridade.
Parcela significativa da pauta deve apontar problemas, questionar autoridades, investigar irregularidades no âmbito público ou privado e organizar a cobertura de processos judiciais relevantes.
Deve fazê-lo, contudo, de modo criterioso e prudente, evitando incidir em prejulgamento e exposição indevida de pessoas e empresas. É obrigatório veicular a versão dos fatos conforme a parte acusada, sobretudo antes da sentença definitiva, e noticiar absolvições que sobrevierem.
Se está hoje dispensado de oferecer uma série de roteiros e listagens que se tornaram comuns na internet, o chamado jornalismo de serviço mantém como instrumentos valiosos em seu repertório o teste e a discussão de vantagens e desvantagens do que será consumido pelo público.
O conteúdo noticioso que resultar dessa pauta seletiva e propositiva deve ir além do meramente factual, incorporando uma dimensão interpretativa que, sem distorcer a realidade, estabeleça relações entre os acontecimentos, seus antecedentes e prováveis implicações.
Deve, sempre que possível, avançar numa direção conclusiva, identificando problemas e ponderando os prós e contras das soluções cabíveis.
Mesmo com as cautelas recomendadas e adotadas, um jornal comete erros e imprecisões; pode, em certas circunstâncias, prejudicar indevidamente a imagem pública de pessoas e organizações.
É preciso reforçar o sistema interno de freios e contrapesos —a obrigação de publicar contestações fundamentadas, a atividade do ombudsman (profissional dedicado a representar direitos do leitor, das fontes e dos personagens do noticiário) e a veiculação metódica de retificações de equívocos constatados.
Folha
As bases de dados se adensam e se multiplicam, constituindo amplo terreno a ser garimpado. Quanto às imagens (foto, vídeo, infográfico), devem ser informativas e plásticas, selecionadas com rigor e publicadas com destaque — elas são, cada vez mais, uma porta de acesso à Folha.
A circulação da Folha abrange leitores da versão impressa e da digital, em suas diversas plataformas.
A versão impressa, que reúne o que de mais relevante ou exclusivo o jornal apurou a cada 24 horas, continua a responder pela maior parte da receita publicitária.
A audiência online, por sua vez, mede-se em dezenas de milhões de visitantes ao mês, dada a possibilidade de acesso individual gratuito a um número determinado de textos jornalísticos.
O consumidor típico procura informação, mas uma parcela crescente dos potenciais leitores espera que a informação vá a seu encontro.
A Folha precisa seguir adaptando-se às inovações tecnológicas e às necessidades do leitorado, levando seu conteúdo aonde ele estiver.
Assim como a área industrial é decisiva para a entrega do produto impresso, a tecnologia da informação tornou- se crucial para a agilidade e a veiculação da versão online.
Na esfera digital, o jornalista não se envolve só na produção de conteúdo; também participa da publicação e da distribuição do material produzido e tem responsabilidade na obtenção de audiência.
Um veículo como a Folha, no entanto, não deve melhorar seus índices recorrendo à vulgarização e ao sensacionalismo. É valioso ser lido e seguido, mas é imperativo preservar os padrões de qualidade e ressaltar a unidade de propósitos e estilo nas diferentes versões em que circula.
Distribuição não quer dizer divulgação gratuita. Fazer jornalismo que cultiva compromissos com a boa consecução técnica é uma operação onerosa.
A Folha considera que a garantia da qualidade jornalística está na remuneração adequada do trabalho investido, que os direitos autorais precisam ser preservados e que a pirataria deve ser combatida.
Considera válidas, também, parcerias que viabilizem a produção de conteúdo editorial de qualidade, assegurada a independência jornalística
O jornalismo da Folha se desenvolve num registro crítico, apartidário e pluralista. Sua singularidade na imprensa brasileira se traduz na abrangência com que interpela e problematiza os poderes instituídos na esfera pública e privada, estendendo sua voz inquisitiva às mais diversas direções, inclusive à própria mídia.
Praticar o pluralismo não significa abrir mão da apuração factual, mas entender que, muitas vezes, existe uma dimensão sujeita a controvérsia, a ser contemplada em termos de dosagem, perspectiva e proporção.
A diversidade se manifesta também no amplo espectro ideológico do corpo de colunistas, que abriga as correntes de opinião mais representativas da sociedade e faz da Folha um desaguadouro natural de ideias e posições em conflito.
O fato de contar com um espectro denso e variado de opiniões assinadas não exime o jornal de emitir a sua própria sobre os temas mais relevantes, mas as posições que assume não tutelam a cobertura noticiosa.
Tais características tornamse ainda mais preciosas num ambiente saturado de um maniqueísmo tosco. Expondo o público leitor ao contraditório, podem servir de antídoto ao irracionalismo que se mostra refratário não apenas às formas tradicionais de intermediação política mas também a todo tipo de ponderação, equilíbrio e nuança.
As redes sociais, que poderiam ser um ambiente sobretudo de convívio e intercâmbio, são programadas de tal modo que estimulam a reiteração estéril de hábitos e opiniões preexistentes. Os algoritmos que garantem índices elevados de audiência para as multinacionais do oligopólio são os mesmos que alimentam o sectarismo e a propagação de inverdades.
A Folha acredita que, assim, coloca um acervo precioso nas mãos do público. Desempenhar-se bem num mercado sempre mais exigente e competitivo implica uma reeducação constante, que pressupõe o acesso à informação exata, à análise qualificada e à diversidade de angulações.
Ao mesmo tempo, a expansão das oportunidades a um número cada vez maior de pessoas e a própria manutenção da democracia como forma de convivência civilizada dependem de um espaço público aberto, vigoroso e sustentado pelo debate racional das opções.
Um jornalismo tal como o esboçado neste documento há de ser alavanca decisiva no atendimento dessas demandas de nossa época. É preciso imaginação e tenacidade para mantê-lo viável.