Folha de S.Paulo

Acordo comercial com o Brasil deve demorar

- PATRÍCIA CAMPOS MELLO

Já há conversas preliminar­es entre o Brasil e o Reino Unido sobre um eventual acordo de livre comércio a ser assinado após os britânicos deixarem oficialmen­te a União Europeia (UE), daqui a dois anos, se não houver atrasos.

Mas as conversas são reservadas e incipiente­s, porque os britânicos ainda são membros do bloco e, em tese, não poderiam estar em negociação.

Além disso, a última coisa que os britânicos querem é irritar autoridade­s europeias no momento em que a prioridade é assegurar um bom acordo para continuar exportando seus produtos para a UE em condições vantajosas.

Dentro do Itamaraty, a aposta é que o acordo entre Mercosul e o bloco europeu será assinado antes de um eventual tratado com os britânicos.

Embora as negociaçõe­s entre UE e Mercosul se arrastem desde 2000, o Itamaraty vê um novo ímpeto —do lado do Mercosul, uma mudança “filosófica” no modo de a Argentina encarar o comércio; no lado europeu, o abandono da postura dogmática.

Fechar um acordo com o Reino Unido seria mais simples do que com 27 países, muitos deles protecioni­stas. Mas o governo não acredita que as negociaçõe­s com Londres comecem antes do fim de 2019.

O cientista político Anthony Pereira, diretor do Instituto Brasil do King’s College, acha que um acordo com o Reino Unido, que não tem o perfil protecioni­sta de países com forte lobby agrícola como França, Bélgica e Irlanda, seria mais fácil do que com a UE.

Mas Pereira também acha que tudo isso deva levar tempo. “Neste ano, há eleições na França em abril e na Alemanha em setembro; as negociaçõe­s sobre o ‘brexit’ só devem começar a sério depois disso; vai levar mais de dois anos para serem concluídas.”

O encarregad­o de negócios (embaixador em exercício) britânico no Brasil, Wasim Mir, diz que o país vai se tornar mais aberto ao comércio. E o Brasil é um dos países com os quais o Reino Unido quer reforçar laços comerciais.

Os ministros das Relações Exteriores, Boris Johnson, e da Economia, Philip Hammond, virão ao Brasil nos próximos três meses. Mir enfatiza que, inicialmen­te, os brasileiro­s não serão afetados.

“Por enquanto nada muda para os brasileiro­s que moram no Reino Unido. Há muitos brasileiro­s lá e muitos britânicos morando em outros países da UE. Por isso queremos começar o quanto antes a negociar os seus direitos. É uma questão de negociação, mas ainda permanecem­os membros da UE pelos próximos dois anos. ”

O embaixador Luiz Felipe Seixas Correa, vice-presidente do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacio­nais), não está otimista. “O Brasil continuará não sendo prioridade para o Reino Unido, focado mais na Ásia. A América Latina, após sucessivas crises, voltou à periferia.”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil