Gerar pedido de cassação
Ivanka Trump, a filha do presidente que recentemente ganhou uma sala na Casa Branca junto à equipe de conselheiros políticos do pai e acesso a informações confidenciais, se tornará agora, oficialmente, uma funcionária do governo.
O anúncio foi feito pela própria Ivanka, 35, nesta quarta (29), em meio a críticas sobre o obscuro papel que ela vinha desempenhando no governo desde que Donald Trump assumiu o poder. A filha mais velha do presidente será agora “assistente especial” do pai, mas não receberá salário, como também ocorre com seu marido, Jared Kushner, que é conselheiro do sogro desde janeiro.
Ivanka já vinha participando de encontros de Trump com líderes estrangeiros, como com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com os primeiros-ministros Shinzo Abe (Japão) e Justin Trudeau (Canadá). A indefinição sobre o papel da empresária na Casa Branca era só um dos problemas do governo Trump que, para críticos, justificariam a cassação do presidente por conflito de interesses.
“É uma relação sem precedentes na Casa Branca”, diz James Nelson, ex-juiz da Suprema Corte do Estado de Montana e assessor legal da Free Speech for People, organização que lidera uma campanha com mais de 917 mil assinaturas para iniciar um processo de impeachment contra Trump.
“Assim como Ivanka, outros dois filhos de Trump, Donald Jr. e Eric [que assumiram o controle da Organização Trump antes da posse] continuam tocando seus negócios enquanto se fazem presentes na Casa Branca. Eles acham que não há conflito de interesses”, diz. Ivanka passou o controle de sua marca de roupas e acessórios para sua principal diretora, Abigail Klem, mas continua tendo poder sobre a empresa.
Donald Jr. e Eric têm menos penetração no governo que a irmã, mas são alvo de críticas pela proximidade que demonstram com congressistas em eventos oficiais e pelos altos gastos do governo com segurança para suas viagens de negócios.
Com a decisão de se formalizar como assessora, Ivanka estará sujeita, agora, às mesmas regras que outros funcionários do governo —inclusive à legislação sobre crimes MELANIA (MULHER) A primeira-dama entrou com um processo contra o “Daily Mail”, no qual argumentou que, por causa de uma matéria “difamatória”, Melania perdeu uma “oportunidade única”, por ser famosa, de lançar uma linha de produtos JARED KUSHNER (GENRO) Conselheiro especial do presidente, o genro comandará escritório de inovação recémcriado; sua família negociava acordo de US$ 400 milhões com firma chinesa ligada a líderes do governo, mas os dois lados desistiram após críticas IVANKA (FILHA) Tem muita influência sobre o pai e passará a ser funcionária não remunerada da Casa Branca; participou de encontros de Trump com líderes estrangeiros e, em fevereiro, o presidente criticou loja por parar de vender marca da filha ERIC E DONALD JR. (FILHOS) Passaram a comandar a Organização Trump quando o pai assumiu a Presidência e têm acesso a parlamentares em encontros na Casa Branca; em janeiro, Eric foi a negócios para o Uruguai, onde o gasto com segurança foi de US$ 98 mil
Em pouco mais de dois meses de governo, vários episódios demonstraram a dificuldade de evitar conflitos de interesse com Trump no poder.
Apesar de ter cedido o controle de sua empresa aos filhos, ele continua proprietário da Organização Trump, que atua ou tem interesses em negócios em 25 países.
Em fevereiro, por exemplo, o governo mexicano aprovou o registro de três marcas do grupo até 2026.
No mês seguinte, foi a vez de a China dar sinal verde à venda de 38 produtos da marca Trump no país.
Um banco estatal chinês aluga salas que ocupam cerca de 10% do espaço de escritórios na Trump Tower, em Nova York. Em fevereiro, uma cobertura de US$ 15,8 milhões foi comprada pela fundadora de uma consultoria que “facilita relações” com o governo chinês.
Os problemas não envolvem só governos estrangeiros. Um levantamento do “Washington Post” mostrou que, em 21 dos 66 primeiros dias de Trump no poder, ele visitou propriedades da sua empresa —como o clube de Mar-a-Lago, na Flórida, campos de golfe e seu hotel em Washington. Para críticos, a movimentação serve de publicidade para a organização.
“Esses múltiplos casos mostram um desrespeito da lei pela equipe da Casa Branca e uma fraca consultoria legal sobre questões éticas”, diz Richard Painter, que foi advogado do presidente George W. Bush (2001-2009) para o tema.
Para Nelson, qualquer um dos incidentes envolvendo outros governos externos seria motivo para pedir a saída de Trump. Ele, contudo, diz duvidar que o Congresso, de maioria republicana, esteja disposto a levar adiante um pedido de impeachment. “Se fosse um presidente democrata, com o mesmo comportamento, talvez o processo já estivesse em andamento.”