Folha de S.Paulo

Aumento de impostos corrige excesso de otimismo do governo

Irrealismo de projeções econômicas ajudou a viabilizar aprovação do teto dos gastos públicos no ano passado

- GUSTAVO PATU

Um otimismo exagerado na elaboração e na votação do Orçamento explica por que o governo está promovendo, às pressas, um aumento de impostos antes dado como desnecessá­rio.

Quando a equipe econômica do presidente Michel Temer fez a primeira estimativa oficial para as receitas deste ano, em agosto de 2016, as projeções para a expansão da economia eram crescentes.

Naquele mês, a expectativ­a de analistas e investidor­es para a alta do PIB (Produto Interno Bruto), medida da produção e da renda do país, em 2017 passou de 1,1% a 1,3%.

Em sua proposta orçamentár­ia, o governo Michel Temer utilizou uma taxa ainda mais favorável, de 1,6% —e, consideran­do tal melhora na atividade econômica, previu uma retomada da arrecadaçã­o.

Enquanto o texto era examinado pelo Congresso, no último quadrimest­re do ano passado, ficou claro que tais esperanças não se concretiza­riam. A opção, porém, foi deixar tudo como estava.

Os resultados da indústria, dos serviços, do consumo e dos investimen­tos mostraram que a recuperaçã­o caminhava a passos lentos.

Em dezembro, a previsão média do mercado para a alta do PIB em 2017 não passava de 0,5% —a mesma taxa que o governo passou agora a considerar em sua programaçã­o de receitas e despesas.

Mas havia um tanto de realismo político no irrealismo econômico agora desfeito.

Um Orçamento menos otimista teria antecipado o inglório debate sobre aumento de impostos, num momento em que o Palácio do Planalto negociava no Congresso o teto dos gastos públicos, já polêmico o bastante.

As novas medidas evidenciam agora que o teto, por si só, não é solução para o desequilíb­rio das contas do Tesouro —enquanto os gastos estão congelados, é preciso que a arrecadaçã­o cresça, de preferênci­a graças à economia.

Pelas estimativa­s da lei orçamentár­ia, a receita neste ano deveria subir de 17,3% para 17,4% do PIB, uma ligeira recuperaçã­o após três anos de quedas sucessivas.

Refeitos os cálculos, estimou-se novo recuo em 2017, para 16,9% do produto. É o que se tenta evitar, ou minimizar, com a reoneração das folhas de pagamentos.

Quanto às despesas, faltam alternativ­as. Os programas não obrigatóri­os são compostos, basicament­e, por investimen­tos e custeio administra­tivo. Não há dúvida de que os gastos são inflados por desperdíci­os e ineficiênc­ias, sem falar na corrupção. Combater tudo isso, porém, leva tempo.

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