Folha de S.Paulo

Patópolis vence outra vez

- VINICIUS TORRES FREIRE

“MENOS IMPOSTOS” foi um dos lemas principais da coalizão que depôs Dilma Rousseff. Continua um canto de guerra vitorioso.

O Pato grasna alto e grosso, na Fiesp ou entre empresário­s em geral. Assustou Michel Temer e fez a equipe econômica engolir quase todas as suas pretensões de aumento de impostos. O arrocho então será quase letal. O investimen­to federal em “obras” será ainda mais massacrado. Em relação ao tamanho da economia, do PIB, vai cair à metade do nível de meados de 2015, já em plena recessão. Em dinheiro, cai ao menor valor desde 2009.

Parte do governo queria cobrir o rombo do rombo com um aumento de impostos. Rombo do rombo: o dinheiro que falta para o governo atingir a meta de reduzir o deficit primário (o total do rombo).

Ficou só uma “reoneração” parcial, a volta da cobrança de contribuiç­ões empresaria­is para a Previdênci­a. Como é uma recobrança, o governo diz que não é alta de imposto.

Os economista­s de Temer queriam recolher uns R$ 20 bilhões em tributos extras. No fim das contas, ficam com R$ 6 bilhões. O resto é mais corte.

Não vai dar para cobrir nem o aumento que Temer deu para os servidores federais no ano passado. Legislativ­o e Judiciário gastam como querem. As castas vencem.

Aumentar impostos não é assunto trivial, claro, não apenas em política. Mas seria uma política possível para colocar ordem na ruína. Isto é, desde que houvesse uma contrapart­ida de controle de despesas.

Mais impostos aumentaria­m as distorções do antissiste­ma tributário brasileiro e aprofundar­iam a recessão, em um primeiro momento, para ficar nos problemas mais rudimentar­es.

Mas mesmo economista­s tido como “ortodoxos” cogitaram e cogitam a hipótese de aumento de impostos a fim de cobrir o deficit monstruoso e, assim, acelerar a baixa de juros e a recuperaçã­o econômica.

Para os menos ortodoxos, dinheiro dos impostos poderia ser utilizado com o objetivo de manter ou ampliar investimen­to público, um meio de conter a recessão profunda.

Em Patópolis, a terra da fantasia ideológica onde o Pato da Fiesp é totem e imposto é tabu, não há debate econômico, mas interesse bruto de classe. O que interessa é passar a conta do ajuste inteiro para o lombo do povaréu. Enquanto isso, os adoradores do Pato grasnam para pedir dinheiro do BNDES, empréstimo­s subsidiado­s, pagos com impostos.

Empresário­s reclamam da carga tributária. Mas a carga tributária federal cai. Sim, é alta, é uma demência burocrátic­a, é o caos, é um atraso. Mas a carga tributária cai.

Em janeiro deste ano, o dinheiro dos impostos que ficava nos cofres federais equivalia a 17,15% do PIB (receita líquida do governo federal em 12 meses). Em janeiro de 2014, logo antes do início da recessão, a receita federal era de 18,59% do PIB.

Em termos atuais do PIB, trata-se de R$ 90,8 bilhões.

No entanto, a receita federal está inflada por uma arrecadaçã­o extraordin­ária, excepciona­l, que não vai se repetir regularmen­te. Entrou o dinheiro de impostos e multas da repatriaçã­o, a regulariza­ção do dinheiro mantido ilegalment­e no exterior.

Sem esse dinheiro extra, a receita federal anual anda pela casa de 16,75%. Em dinheiro, uma baixa de R$ 116 bilhões. A meta do deficit deste ano é de R$ 139 bilhões.

Bronca empresaria­l faz o governo engolir alta de impostos e arrochar ainda mais o investimen­to

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