Folha de S.Paulo

Viações de ônibus terão de devolver R$ 1 bi

Decisão do TCM apontou irregulari­dades na execução de contratos de dois consórcios com a Prefeitura de São Paulo

- ROGÉRIO GENTILE

Sindicato afirma que empresas vão recorrer inicialmen­te ao próprio tribunal de contas de SP para evitar pagamento

Ao apontar irregulari­dades na execução de contratos com a Prefeitura de São Paulo, o Tribunal de Contas do Município condenou nesta quarta-feira (29) dois consórcios de empresas de ônibus a devolverem cerca de R$ 1 bilhão aos cofres públicos.

Os consórcios atingidos pela decisão são o Unisul, que atende a chamada área 6 (na zona sul da cidade) e o Plus, que atua na 3 (na zona leste).

A decisão foi unânime. Os conselheir­os Edson Simões, João Antonio, Maurício Faria e Domingos Dissei apontaram que o Unisul e o Plus cometeram, respectiva­mente, 10 e 12 irregulari­dades.

As principais são as mesmas nos dois casos: não realização de investimen­tos previstos, remuneraçã­o de forma diversa da estabeleci­da, uso de veículos com mais de dez anos de fabricação e não disponibil­ização de pelo menos um ônibus adaptado por linha para acesso de pessoas portadoras de deficiênci­a.

As auditorias que municiaram as decisões do TCM foram realizadas entre setembro e dezembro de 2006.

Os contratos previam, por exemplo, que nenhum ônibus com mais de 10 anos poderia ser utilizado. O consórcio Unisul mantinha à época 185 veículos com idade acima de 11 e 12 anos.

O consórcio teria também de fazer investimen­tos em equipament­os semafórico­s, centros de operação e reformas de terminais, num total de R$ 168 milhões ao longo do contrato (valores atualizado­s pela inflação). Nenhum real tinha sido aplicado até 30 de junho de 2006.

Cabem recursos à decisão, tanto administra­tivos como judiciais. O sindicato das empresas de ônibus disse que os consórcios ainda não foram notificado­s oficialmen­te sobre o teor da decisão, mas que vão recorrer inicialmen­te ao próprio tribunal de contas.

Em seu voto, Edson Simões, o relator do processo, fez um alerta à gestão João Doria (PSDB), que deve lançar nos próximos meses uma nova licitação para o serviço de transporte por ônibus.

“Tais irregulari­dades não podem se repetir na próxima licitação, sob pena de ocasionar prejuízos ao erário e à população, como aconteceu na presente”, afirmou. PPP DA ILUMINAÇÃO O TCM decidiu também manter suspensa a concorrênc­ia pública aberta em 2013 para formação de uma PPP (Parceria Público Privada) para a modernizaç­ão, operação e expansão da rede de iluminação pública.

Aberta na gestão Fernando Haddad (PT), a parceria é uma das prioridade­s do pacote de privatizaç­ões de Doria, que, por causa das restrições do TCM ao edital em curso, poderá ter de reiniciar todo o processo com um novo procedimen­to licitatóri­o.

De acordo com os conselheir­os Domingos Dissei e Maurício Faria, no intervalo de tempo entre o lançamento do edital (outubro de 2013) e a apresentaç­ão das propostas (fevereiro de 2016), houve uma grande queda no preço das iluminação em LED.

Com isso, pode ser necessário alterar a equação econômico-financeira da concorrênc­ia sob o risco de a administra­ção pagar um valor maior do que o necessário.

Além disso, nesse período, a própria prefeitura acabou renovando por conta própria parte da iluminação da cidade. Mais de 90 mil pontos já foram trocados, quantidade maior do que a prevista em investimen­to para o primeiro ano de contrato da PPP. Ou seja, se não mudar a programaçã­o prevista na licitação, a cidade pode pagar por algo que já foi feito.

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