Folha de S.Paulo

Vídeo mais visto do Porta dos Fundos

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24,7 milhões de visualizaç­ões caretas, berros e palavrões.

Já “O Amor de Catarina”, que também teve Kéfera numa versão diferente, fracassou: foi visto por menos do que 5.000 pessoas. Mas teve lançamento menor: 69 salas.

Recém-indicado à diretoria da Ancine, Sérgio Sá Leitão diz que os youtubers precisam encontrar o “eu cinematogr­áfico”. “Se o público entender pelo trailer que o filme é muito parecido com o canal, provavelme­nte o dispensará e seguirá vendo o canal, grátis, rápido e por meio do celular.”

Ele compara com o fenômeno Trapalhões, de quatro décadas atrás: “Os filmes funcionava­m porque eram mais do que versões ampliadas do programa de TV. Ao mesmo tempo, mantinham a essência do que eram”, afirma.

Pioneiro ao desbravar o nicho, o Porta dos Fundos seguiu estratégia semelhante, mas naufragou: fez 454 mil espectador­es, abaixo do menos assistido dos vídeos no canal. da rede Snack. Ele foi criado em 2015 para dar aconselham­ento afetivo a jovens.

Celso Portiolli (2,5 milhões de inscritos/48,6 milhões de views), apresentad­or do SBT, é tido como quem melhor entendeu a nova lógica. Mas ele é exceção, diz Luiz Felipe Barros, CEO da agência Digital Stars, que cuida da carreira de Kéfera e Christian Figueiredo.

“Alguns vão dar certo [na internet], outros, não. Mas no fim eles ainda são como apresentad­ores de TV. Falam com a mesma linguagem, eles não se tornam influencia­dores, são públicos diferentes também”, disse Barros em palestra na feira audiovisua­l Rio Content.

“Galisteu sofria porque estava acostumada a ser apresentad­ora. Quando percebeu que podia ser ela mesma, e ninguém ia questionar —pelo contrário—, ela deslanchou”, diz Juliana Algañaraz, gerente geral da Endemol, que produz o canal da apresentad­ora.

“Para mim o desafio está aí, de mudar a linguagem, agradar a quem assiste e falar um pouco de tudo”, diz Galisteu, que promete levar cinco seguidores para a Disney quando chegar a 1 milhão de inscritos.

Leda Nagle, que liderou o programa “Sem Censura” (TV Brasil) por 20 anos, também migrou. Em seus 12 primeiros vídeos, só passou das 3.000 visualizaç­ões em um —quando entrevisto­u Felipe Neto, um dos primeiros youtubers.

“Preciso buscar na minha espectador­a de anos a do canal”, diz Nagle. “E isso é muito novo para muitas, que vão precisar da ajuda de filhos e netos para me encontrar.”

Mas os fracassos não desestimul­am as mudança de área? “Para quem quer crescer, o adsense [publicidad­e do Google] não paga a conta. Kéfera, Christian, Felipe Castanhari foram para o cinema, a TV. Eles têm vida fora [da web] e precisam dela”, afirma Algañaraz.

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