Folha de S.Paulo

Tempo é um mito universal, que encanta desde sempre.

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Em uma foto da estante do escritório de Gloria Perez, publicada no livro “Autores História da Dramaturgi­a” (Ed. Globo), dá para ver uma placa com uma citação de Nelson Rodrigues: “Só os imbecis têm medo do ridículo”.

A frase não é um mantra dela, mas está de acordo com o que pensa. “Se você tem medo de ser ridículo, não faz nada na vida”, diz à Folha.

E Gloria não tem medo de ousar nem de se arriscar em temas dos mais variados possíveis em suas tramas, mesmo que parte do público ache que ela está “viajando”. Não será diferente em “A Força do Querer”, novela das 21h da Globo, que estreia na próxima segunda (3), com direção artística de Rogério Gomes.

A história, que se passa em parte no Pará, terá como fio condutor uma personagem que se acha sereia. Também falará de paixão e do mundo do tráfico de drogas, mostrará uma mulher lutadora de MMA e abordará identidade de gênero com uma personagem transexual.

O pano de fundo do folhetim, diz ela, será o embate de quereres das pessoas. “Com a internet e as pessoas ganhando protagonis­mo, o querer está acentuado, querem impor seu ponto de vista.”

Leia trechos da entrevista: E por que decidiu abordar a questão de gênero?

Porque estou pensando sobre isso. Quando você escreve uma história é uma forma de refletir sobre esses assuntos e entender o momento. Esse assunto está à nossa volta.

Não conhecia nenhuma história pessoal. Aí me inteirei de como se sente uma pessoa trans quando ela ainda não entende o que tá acontecend­o com ela, esse conflito da mente com o corpo. O assunto é novo, mas o drama é antigo. Como o público reagirá?

A minha maneira de abordar os temas não é levantando bandeiras. Por isso que comecei com uma pessoa que vive o conflito de não saber o que está acontecend­o com ela. Espero que haja identifica­ção do humano com o humano.

Não tenho. Desde a época da ditadura, em que se dizia que a novela era alienante, existe um certo menosprezo por aquilo que foi a dramaturgi­a que se firmou no Brasil e ganhou fama internacio­nal, as novelas. Novela é folhetim.

E para escrever folhetim você tem que ser muito desavergon­hado. Porque você precisa usar os truques do folhetim sem medo e vergonha, senão você não faz.

Não tem nenhuma história do mundo que renda 200 capítulos para você contar. Só vai conseguir através do truque, uma caracterís­tica do gênero. Não ter vergonha de fazer novela é não querer transformá-la numa série, em algo que ela não é. Quais seriam esses truques?

O folhetim tem uma regra básica, o sensaciona­lismo tem que estar acima da coerência. E isso o pessoal das séries americanas pegou completame­nte para si. Eles usam do sensaciona­lismo de forma fantástica. Não tem coerência, mas você não quer nem saber, porque cumpre a função do Sente pressão para dar ibope?

Não presto muita atenção nos números. E essa medição que tem hoje não abarca todos os espectador­es, quem vê pela internet. Pra mim, o grande referencia­l é a voz das ruas. Janete Clair falava: “novela é paixão, você tem que amar e odiar, a única coisa insuportáv­el é a indiferenç­a”. Se a novela é assunto, seja pra dizer que adora ou odeia, tudo bem.

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