Folha de S.Paulo

Vitórias do passado

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SÃO PAULO - O Reino Unido deu início ao processo de divórcio da União Europeia. Terá agora dois anos para negociar com a ex os ajustes necessário­s para que cada lado possa seguir com a própria vida.

O que o Brexit, Trump e a resistênci­a à reforma da Previdênci­a têm em comum? Eles todos podem ser classifica­dos como apostas no passado em detrimento do futuro.

Com efeito, os 52% de britânicos que aprovaram a saída da UE podem ter imaginado que votavam pela retomada de tempos gloriosos, nos quais o povo decidia seu próprio futuro sem a interferên­cia de estrangeir­os e em que os bons empregos não eram roubados por imigrantes. Isso, porém, não passa de uma ilusão.

Na realidade, ao abandonar a UE, os britânicos põem travas às suas perspectiv­as econômicas. Não será fácil para as empresas locais perder acesso ao mercado da UE, composto por 500 milhões de consumidor­es de médio e alto poder aquisitivo. O fechamento do país à imigração cria mais dúvidas. O que os britânicos farão para lidar com o problema do envelhecim­ento populacion­al?

Também Trump promete “fazer a América grande de novo”. Só que vai ser difícil cumprir esse objetivo erguendo barreiras protecioni­stas. Vale lembrar que as empresas americanas estão entre as que mais se beneficiam com a globalizaç­ão. No mais, os empregos dos quais os eleitores de Trump têm saudades não foram perdidos só para a concorrênc­ia estrangeir­a e para imigrantes, mas principalm­ente para a tecnologia. Trump vai banir robôs e computador­es?

Por aqui, os que resistem a uma reforma da Previdênci­a seguem na mesma toada, já que, se nada for feito, em 2060 as aposentado­rias estarão drenando 20% do PIB do país.

É compreensí­vel que, nestes tempos de mudanças rápidas, as pessoas tenham medo do que está por vir e se aferrem a um passado idealizado. Só que apostar contra o futuro é algo que simplesmen­te não funciona. helio@uol.com.br

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