Folha de S.Paulo

Moro condena Cunha a 15 anos de prisão na Lava Jato

Preso há 5 meses, ex-deputado é acusado de receber propina na Petrobras

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Juiz federal volta a criticar formulação de perguntas para Temer e cita ‘modus operandi de extorsão e ameaça’ DE SÃO PAULO

O juiz federal Sergio Moro condenou o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB) a 15 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão fraudulent­a de divisas.

Cunha é acusado de receber propina de US$ 1,5 milhão em um negócio da Petrobras em Benin, na África.

É a primeira condenação do ex-deputado na Operação Lava Jato. Preso desde outubro passado, ele é réu em mais duas ações, por suposto recebiment­o de propina em contratos de aquisição de naviossond­a pela Petrobras junto a um estaleiro coreano e também em um desdobrame­nto da operação, que prendeu Lúcio Funaro, apontado como seu operador financeiro.

Cunha ainda é investigad­o em ao menos outros cinco inquéritos.

Na sentença, Moro criticou o envio de questionam­entos pelo ex-deputado para o presidente Michel Temer, arrolado inicialmen­te como testemunha de defesa no caso.

Para o juiz, a culpabilid­ade de Cunha é “elevada” pela importânci­a do cargo que exercia. “Não pode haver ofensa mais grave do que a daquele que trai o mandato parlamenta­r e a sagrada confiança que o povo nele deposita para obter ganho próprio”, disse.

Moro citou como um agravante para a pena as consequênc­ias do contrato firmado pela estatal, que “geraram um prejuízo estimado à Petrobras de cerca de US$ 77,5 milhões”, segundo análise in- terna da empresa.

O juiz afirmou ainda que Cunha usava seu “enorme poder e influência” no Congresso para enriquecer ilicitamen­te, ao dar apoio político para o então diretor da Petrobras Jorge Zelada, que agia a “seu serviço” e é apontado como um dos articulado­res dos pagamentos, embora não seja réu nessa ação. TEMER A defesa deve recorrer ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Cunha tenta habeas corpus no Supremo e continuará preso.

No despacho, Moro afirma ainda que Cunha, já em seu período na cadeia, provavelme­nte tentou provocar “alguma espécie de intervençã­o indevida” de Temer em seu favor na Justiça ao encaminhar perguntas a ele na ação penal, em novembro passado.

Para o juiz, esse comportame­nto de Cunha “apenas revela que sequer a prisão preventiva foi suficiente para fazê-lo abandonar o modus operandi, de extorsão, ameaça e chantagem”.

O ex-deputado perguntou, em uma série de questionam­entos encaminhad­os na Justiça, qual era a relação de Temer com seu amigo José Yunes e se ele havia recebido contribuiç­ões de campanha “de forma oficial ou de forma não declarada”.

“Para evitar qualquer malentendi­do, não há qualquer registro de que o Exmo. Sr. presidente da República tenha cedido a essa tentativa de intimidaçã­o”, escreveu Moro.

O juiz relembrou ainda que Cunha mentiu em uma audiência de uma CPI da Petrobras, em 2015, ao negar que possuía contas no exterior. (MÔNICA BERGAMO, JOSÉ MARQUES, FELIPE BÄCHTOLD E PAULO GAMA)

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Heuler Andrey - 20.out.2016/AFP O ex-deputado Eduardo Cunha, que está preso no Paraná

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