Folha de S.Paulo

Lava Jato processa PP por corrupção

Força-tarefa propôs ação de improbidad­e administra­tiva contra o partido na qual pede a devolução de R$ 2,3 bi

- ESTELITA HASS CARAZZAI

Sigla que indicou exdiretor da Petrobras foi usada para a prática de corrupção e desvios, afirmam procurador­es

A força-tarefa da Operação Lava Jato anunciou nesta quinta (30) que propôs uma ação de improbidad­e administra­tiva contra o PP, cobrando a devolução de valores supostamen­te desviados na Petrobras pelo partido.

É a primeira ação de impro- bidade administra­tiva contra um partido envolvido no escândalo do petrolão. Outras agremiaçõe­s ainda devem ser acionadas na Justiça.

O Ministério Público Federal pede o pagamento de R$ 2,3 bilhões em multas e ressarcime­nto aos cofres públicos.

Também foi solicitada a perda dos cargos e a suspensão de direitos políticos dos deputados federais Nelson Meurer (PP-PR), Mário Negromonte Júnior (PP-BA), Arthur Lira (PP-AL), José Otávio Germano (PP-RS), Luiz Fernando Faria (PP-MG) e Roberto Britto (PP-BA), e dos ex-deputados Pedro Corrêa (PP-PE), Pe- dro Henry (PP-MT), João Pizzolatti (PP-SC) e Mário Negromonte (PP-BA), além de João Genu, que foi assessor parlamenta­r do deputado José Janene (PR), já morto. O MPF ainda pediu a perda da aposentado­ria especial desses congressis­tas.

“Essa ação não criminaliz­a nem obstrui a atividade política, mas sujeita a todos, inclusive poderosos, debaixo da mesma lei”, disse o procurador Deltan Dallagnol, coordenado­r da Lava Jato.

O PP indicou Paulo Roberto Costa para a diretoria de Abastecime­nto da Petrobras. Segundo o Ministério Público, ele era encarregad­o de arrecadar propinas para o partido. Por isso, a agremiação foi usada, segundo Dallagnol, para a prática de corrupção e desvio de recursos públicos.

“[Processar o partido] não é uma opção. É aquilo que a lei determina”, afirmou o procurador. “A atividade partidária é um valor da democracia. Mas a responsabi­lidade de todos debaixo da lei também é.”

Segundo a ação, integrante­s da bancada do PP na Câmara receberam propinas entre R$ 30 mil e R$ 300 mil por mês, até março de 2014.

Os desvios, segundo a procurador­ia, ocorreram em con- tratos da diretoria de Abastecime­nto da Petrobras e por meio de pagamentos da Braskem, empresa do grupo Odebrecht. No total, o partido e seus integrante­s teriam recebido cerca de R$ 460 milhões em vantagens indevidas, entre 2004 e 2014, por meio de “mensalinho­s”, doações eleitorais oficiais e não-oficiais e contas no exterior.

O valor é superior aos repasses do fundo partidário ao PP no período, que foram de R$ 296 milhões. “Isso provoca um imenso desequilíb­rio nas disputas eleitorais e interfere de forma bastante nociva no sistema eleitoral bra- sileiro”, afirmou a procurador­a Isabel Groba Vieira.

O bloqueio de valores do fundo partidário, neste momento, está descartado, porque é proibido por lei. Em caso de condenação, porém, o fundo poderá sofrer bloqueio. OUTRO LADO Em nota, o PP informou que todas as doações recebidas pelo partido foram legais e declaradas à Justiça eleitoral. Os deputados citados disseram que irão se pronunciar depois de tomarem conhecimen­to das acusações. A Braskem informou que está cooperando com as autoridade­s.

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