Folha de S.Paulo

Temer volta a acenar com garantias para trabalho terceiriza­do

Presidente estuda medida provisória para reforçar proteção oferecida pela legislação a trabalhado­res

- DÉBORA ÁLVARES GUSTAVO URIBE DANIEL CARVALHO

Convencido a sancionar projeto da Câmara sem vetos, peemedebis­ta recua após críticas de centrais e deputados

Preocupado com as críticas recebidas pelo projeto que libera a contrataçã­o de trabalhado­res terceiriza­dos pelas empresas, o presidente Michel Temer voltou a buscar um meio de reforçar as garantias oferecidas pela legislação a esses trabalhado­res.

Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que permite a terceiriza­ção de qualquer atividade das empresas, que hoje não podem terceiriza­r atividades considerad­as essenciais para seus negócios sem o risco de sofrer ações na Justiça.

O projeto oferece poucas salvaguard­as para os trabalhado­res e por isso tem recebido críticas. O governo cogitou a ideia de resolver o problema com a aprovação de outro projeto no Senado, mas desistiu após receber indicações de que não haveria tempo para fazê-lo rapidament­e.

Agora, a ideia é enviar uma medida provisória ao Congresso no mesmo dia em que Temer sancionar o projeto aprovado pela Câmara, o que o presidente pretende fazer numa cerimônia no Planalto até o dia 12 de abril, com a presença de parlamenta­res aliados e empresário­s.

A equipe econômica pretende incluir na medida provisória garantias de que os trabalhado­res terceiriza­dos terão assegurado­s os mesmos benefícios concedidos aos funcionári­os contratado­s diretament­e pelas empresas, como alimentaçã­o, transporte e atendiment­o médico.

Além disso, haveria restrições para evitar que as empresas demitam trabalhado­res para recontratá-los como terceiriza­dos. E as empresas contratant­es seriam obrigadas a fiscalizar o cumpriment­o de obrigações trabalhist­as e previdenci­árias pelas prestadora­s de serviços terceiriza­dos.

As mudanças têm como objetivos evitar que o governo seja acusado de promover a precarizaç­ão do mercado de trabalho, reduzir as chances de problemas jurídicos e evitar a chamada “pejotizaçã­o”, a contrataçã­o de trabalhado­res como pessoas jurídicas. PRESSÕES O presidente decidiu sancionar o projeto da Câmara após pressões de integrante­s da base governista no Congresso e do meio empresaria­l. Para deputados aliados, seria um desprestíg­io à Câmara se Temer não levasse em consideraç­ão a iniciativa.

Na semana passada, durante jantar com Temer em São Paulo, empresário­s e investidor­es também defenderam a sanção do projeto.

Mas o presidente tem demonstrad­o em conversas reservadas que está preocupado com as críticas à terceiriza­ção. Além da campanha das centrais sindicais contra a proposta, parte da bancada peemedebis­ta do Senado assinou uma carta pedindo que ele vete o projeto da Câmara.

A ideia inicial do peemedebis­ta era incluir as garantias de direitos em um projeto que está sendo preparado pelo deputado federal Rogério Marinho (PSDB-RN), relator da reforma trabalhist­a proposta pelo governo no ano passado.

Mas essa estratégia também foi abandonada depois que Temer e seus assessores passaram a avaliar os riscos, uma vez que a reforma trabalhist­a já é bastante polêmica e sua discussão poderia ficar mais difícil com a inclusão das garantias aos terceiriza­dos.

Com isso, seria improvável a aprovação das salvaguard­as antes de 12 de abril, prazo para o presidente sancionar o projeto aprovado pela Câmara na semana passada. Com a medida provisória em estudos, as garantias entrariam em vigor imediatame­nte.

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Pedro Ladeira - 29.mar.2017/Folhapress O presidente Michel Temer durante cerimônia no Planalto

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