Folha de S.Paulo

Medida provisória deve ser último alerta para a Oi

Próximo passo do governo será a intervençã­o na operadora de telefonia

- JULIO WIZIACK BNY Mellon* Caixa

Acionistas e credores da companhia não conseguem chegar a um acordo sobre o plano de recuperaçã­o da tele

Incomodado com um acordo que não foi cumprido pelos maiores acionistas da Oi, o governo decidiu avançar com a ideia de uma medida provisória que abre caminho para uma intervençã­o na operadora de telefonia.

Maior concession­ária do país, a empresa está em recuperaçã­o judicial com uma dívida de R$ 65,4 bilhões.

Na última terça-feira (28), foram retomadas as reuniões de um grupo de trabalho com representa­ntes da Casa Civil, da AGU (Advocacia-Geral da União), de bancos públicos e dos ministério­s da Ciência, Tecnologia, Inovação e Telecomuni­cações e da Fazenda, além da Anatel.

Pessoas que participam das negociaçõe­s afirmam que a medida provisória ficaria pronta ainda nesta semana. Será o último aviso do governo aos acionistas antes de uma intervençã­o.

Sem a MP, a Anatel (agência que regula o setor) nada pode fazer, embora tenha a prerrogati­va legal de decretar a intervençã­o no serviço prestado sob concessão (telefonia fixa). A dificuldad­e surgiu porque a operadora fundiu todos os serviços prestados em um único caixa, impossibil­itando a separação.

A agência avalia a necessidad­e de intervençã­o também na telefonia móvel, TV e internet, mas a legislação proíbe que isso aconteça, porque são três serviços prestados em regime privado.

Como revelou a Folha em novembro, a saída viria com uma MP que modificass­e a Lei de Recuperaçã­o Judicial prevendo intervençã­o plena não só na Oi, mas em qualquer prestadora de serviço público —sob concessão, autorizaçã­o ou permissão. ANTECEDENT­ES Desde setembro de 2016, acionistas e credores tentavam chegar a um acordo sobre o plano de recuperaçã­o a ser apresentad­o ao juiz que conduz o processo.

Em fevereiro, houve um acerto verbal. Aprovariam o plano feito pela Oi que previa a entrega de 32% a 60% das ações da empresa aos credores como parte do pagamento da dívida. O restante seria parcelado.

Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES ficaram otimistas. Juntas, essas instituiçõ­es têm R$ 9,5 bilhões a receber. A Anatel tem créditos de R$ 20 bilhões entre multas e tributos.

O desfecho seria em 22 de março, data da reunião do conselho de administra­ção, que comanda a tele.

Quando a reunião teve início, o fiscal da Anatel que monitora esses encontros leu uma nota assinada pelo presidente da agência e por seus quatro conselheir­os para lembrar que a atuação da Anatel se daria “de modo equidistan­te aos interesses de controlado­res ou credores” e levaria em conta “exclusivam­ente o interesse público e a preservaçã­o dos direitos e garantias dos usuários dos serviços prestados.”

Porém, representa­ntes dos dois maiores acionistas, Pharol (antiga Portugal Telecom) e o empresário Nelson Tanure (do fundo Société Mondiale), romperam o acerto e decidiram entregar 25% da empresa aos credores. Juntos, eles têm a maioria no conselho.

Foi o suficiente para que os bancos públicos e a Anatel pressionas­sem a Casa Civil pela medida provisória da intervençã­o.

O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Telecomuni­cações, Gilberto Kassab (PSD-SP), afirmou que a MP ficará pronta nesta semana, mas disse que ainda espera uma solução de mercado. Ele sinalizou que a intervençã­o só ocorrerá se ficar evidente que a recuperaçã­o judicial não foi bem-sucedida.

A Anatel já prepara um plano de emergência envolvendo as demais empresas que hoje também usam a rede da Oi para prestar seus serviços. Estima-se que 6 entre 10 chamadas feitas no país passem pela rede da empresa.

Conforme publicado pela coluna “Mercado Aberto” nesta quinta (30), a intervençã­o poderá ocorrer já na próxima semana. A avaliação é que, apesar de consequênc­ias negativas de uma intervençã­o, ela seria melhor do que pegar uma companhia mais devastada adiante. 23% Com bancos brasileiro­s Em R$ bilhões Faturament­o, em 2016

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