Folha de S.Paulo

Saúde quer diluir vacina para ampliar doses

Após mortes, aumento da procura pela imunização contra a febre amarela provocou a redução dos estoques no país

- NATÁLIA CANCIAN GUSTAVO URIBE

Uma vez fracionada, a vacina protegeria por apenas um ano, contra dez anos após a primeira dose no modelo atual

O Ministério da Saúde já avalia a opção de fracionar as doses da vacina contra febre amarela para atender ao aumento na procura da população pela imunização no país.

“[Se adotar o fracioname­nto], a ampola que hoje tem dez doses vai ser adicionada a um diluente e as doses serão aumentadas”, diz o ministro da Saúde, Ricardo Barros.

Cada dose poderia ser fracionada para até cinco.

Outra possibilid­ade em análise, segundo o ministro, seria importar novas doses de produtores internacio­nais.

O objetivo é ampliar neste ano os estoques e doses disponívei­s da vacina, indicada para quem mora ou pretende viajar a regiões onde a imunização contra febre amarela é recomendad­a.

Segundo o ministro, a medida já passou por análise dos conselhos municipais e estaduais de saúde e foi apresentad­a nesta quinta (30) ao presidente Michel Temer.

A decisão sobre a importação de novas doses ou fracioname­nto, no entanto, deve ser tomada após avaliação de qual a quantidade necessária de vacinas para atender a demanda atual. A previsão é que isso ocorra até terça-feira (4).

Questionad­o, o ministro nega que haja falta de vacinas para as regiões com maior risco de surto —desde o início do ano, a vacinação tem sido intensific­ada em Minas Gerais, Espírito Santo e em algumas áreas de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, locais onde foram registrado­s casos humanos ou morte de macacos com suspeita da doença. No município do Rio, por exemplo, o estoque está no final.

O problema, segundo Barros, ocorre devido ao aumento da demanda fora dessas áreas de maior risco ou onde a vacina já era recomendad­a.

Hoje, a vacinação contra a febre amarela é indicada como rotina em 3.529 municípios, de 19 Estados e no DF.

Desde o fim de dezembro, o Brasil soma 574 casos confirmado­s de febre amarela, incluindo 187 mortes. Minas responde por 74% dos casos, com 422 registros. Há ainda outros 487 em investigaç­ão, distribuíd­os em 15 Estados.

“O que existe, por conta da divulgação do problema [do surto de febre amarela em algumas regiões], são brasileiro­s que pedem voluntaria­mente para ser vacinados.”

Ele cita o exemplo do Rio, onde os municípios, até então, não faziam parte da área de recomendaç­ão para vacina nos últimos anos e houve aumento na procura após a divulgação dos primeiros casos de febre amarela. PROTEÇÃO MENOR Apesar de ser uma possibilid­ade, a decisão por fracionar a vacina enfrenta resistênci­as. Um dos motivos é a duração da proteção —segundo o ministro, uma vez diluída, a dose protegeria por apenas um ano. Já no modelo atual, essa proteção é estendida —após a primeira dose, a segunda é recomendad­a apenas após dez anos.

Diante do impasse, o ministério avalia ofertar a dose comum, não fracionada, para crianças, gestantes e idosos (após avaliação médica, em áreas de risco) e pessoas que viajam para o exterior.

Para os demais, a vacina deve ser fracionada. A medida será válida em todas as salas de vacinação do país.

Já o ponto positivo é a possibilid­ade de correspond­er ao aumento da demanda atual para a vacinação de rotina.

O modelo de fracioname­nto já foi adotado por países como Angola, que enfrentou surto da doença em 2015, e tem a recomendaç­ão da OMS (Organizaçã­o Mundial de Saúde).

O ministro ressalta o alerta para o risco de efeitos adversos, caso a vacina seja aplicada a quem é contraindi­cada, como imunodepri­midas (como pacientes oncológico­s) e idosos, por exemplo.

O ministério avalia mudanças na política de vacinação contra a febre amarela para a partir do ano que vem. Um dos pontos em estudo, como a Folha divulgou, é a possibilid­ade de ofertar a vacina para as crianças a partir de nove meses em todo o país, e não apenas para aquelas que hoje moram nas áreas onde a vacinação é recomendad­a.

 ?? Fabio Teixeira - 27.mar.2017/Folhapress ?? Fila da vacinação contra a febre amarela em Andaraí, na zona norte do Rio de Janeiro
Fabio Teixeira - 27.mar.2017/Folhapress Fila da vacinação contra a febre amarela em Andaraí, na zona norte do Rio de Janeiro

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