‘Eu não sou livre para dizer o que quiser’, diz escritor Orhan Pamuk
Nobel de Literatura afirma que Turquia está virando um Estado autoritário e denuncia censura
Autor lança no Brasil o livro ‘Uma Sensação Estranha’, em que narra as transformações de sua cidade, Istambul
Em seu novo livro a sair no Brasil, “Uma Sensação Estranha”, o escritor turco Orhan Pamuk faz uma declaração de amor à sua cidade, Istambul, registra suas transformações —e sorri quando se lembra do tempo em que comprava iogurte na rua.
Mas, de sua janela, ele também vê tempos sombrios. Desde o golpe militar frustrado na Turquia, em julho de 2016, o autor diz que seu país caminha para se tornar uma autocracia.
“Estamos virando um Estado autoritário. Vou votar não nesse plebiscito. Se o sim ganhar, não seremos mais uma democracia. Já não somos uma democracia completa, apenas temos um sistema eleitoral”, diz ele.
Pamuk se refere ao referendo constitucional previsto para o dia 16 de abril —que propõe a substituição do sistema parlamentarista pelo presidencialismo, na prática concentrando poderes no presidente Recep Tayyip Erdogan.
Desde que a tensão cresceu na Turquia, Pamuk conta que viu muitos amigos escritores e jornalistas serem presos. E se queixa de hoje não existir mais nenhum jornal de oposição ao governo no país.
“O governo usou o golpe militar para acabar com a liberdade. A crítica na imprensa não é mais possível”, diz.
Questionado se, por conta de sua reputação internacional desde que venceu o Nobel de literatura, em 2006, ele seria o único escritor livre para dizer o que bem entender, Pamuk rebate:
“Há uma imensa atmosfera de medo. Não sou livre para dizer o que quiser. No começo do ano, dei uma longa entrevista a um grande jornal, em que dizia que votaria pelo não no referendo. O jornal não pôde publicá-la”, conta.
Não é a primeira vez que Pamuk tem problemas assim. Em 2005, ele chegou a ir a julgamento por insultar a “identidade turca” ao mencionar em uma entrevista o genocídio dos armênios, pelo Impé-
ORHAN PAMUK
escritor FILME SHERLOCK HOLMES Quem preferir uma versão um pouco mais velha, mais charmosa —e igualmente insuportável— do detetive, pode ficar com Robert Downey Jr. no filme “Sherlock Holmes”, que mostra a relação conturbada dele com Watson (Jude Law). Max UP, 18h50, 14 anos SÉRIE LE TOUR DU MONDE Nesta série em seis episódios do TLC, o produtor musical Lucas Mayer e a videomaker Iris Fuzaro andam pelo mundo com o objetivo de produzir um álbum com músicas compostas por eles na viagem. O episódio de estreia é em Amsterdã. TLC, 23h, 10 anos
“
Posso ter visões de grandes livros, mas sou modesto. Quando o fascismo é muito grande, como o que vem por aí, não há nada que a cultura possa fazer —no máximo ela vai nos consolar