Tentativa de deter a Justiça
O sistema eleitoral brasileiro está em descrédito absoluto. A população não se importa com o partido dos candidatos. Poucos compreendem como funciona o sistema proporcional, em que não são necessariamente eleitos os mais votados.
Não há dúvidas da necessidade de conscientizar o povo sobre a forma de escolha dos representantes. Não enxergo outro caminho que não o de ajustes necessários: extinguir coligações proporcionais, instituir sistema distrital misto para fortalecer vínculos com a comunidade e, ainda, permitir a existência de candidaturas avulsas, sem necessário vínculo partidário, promovendo ativistas e cidadãos não ligados à velha política.
De toda forma, não corrigiremos os erros aprofundando mecanismos viciados. A Lava Jato nos mostra o quanto as estruturas partidárias tradicionais estão corrompidas. Caciques agiram nos últimos anos (talvez décadas) promovendo negócios escusos com dinheiro público, a partir dos caixas das próprias legendas.
O establishment das siglas tradicionais está ruindo como um castelo de cartas. Quem está perto do chão se agarra na última esperança de ficar longe da jurisdição de Curitiba: implementar o voto em lista partidária fechada.
Executado esse plano, o eleitor não votará mais nos candidatos de sua preferência, mas sim nos partidos. Como consequência, o poder dos caciques das grandes agremiações será fortalecido. Eles determinarão quem ocupará as primeiras posições nas listas e, por consequência, quem será eleito.
Nas futuras sucessões internas partidárias, manterão seus poderes na base do mesmo “toma lá, dá cá” de sempre, só que substituindo a troca de dinheiro e alianças pela garantia dos mandatos.
Manter-se em um mandato federal, ou em um ministério, deixou de ser apenas questão de prestígio — passou a ser fator de sobrevivência.
Mesmo com muita obstinação, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, não conseguirá, entre 7.000 processos, ter a agilidade da primeira instância.
Para se ter ideia, a 13ª Vara Federal de Curitiba, do juiz Sergio Moro, possui cerca de mil processos. Entre o STF congestionado, sem expertise em instrução, e uma vara na primeira instância muito menos abar- rotada, habituada a instruir, todos os réus e potenciais já apostaram: querem fazer uso do foro privilegiado que ainda detêm.
Não podemos nos enganar: existe uma operação em curso para salvar os envolvidos e impedir que tenham, todos, o mesmo destino dos colegas do mensalão.
Essa estratégia passa por manter o foro privilegiado, uma excrescência aristocrática; mudar o sistema eleitoral com o voto em lista fechada, assegurando o mandato dos caciques; e ainda aprovar a lei de abuso de autoridade, para punir juízes e promotores por exercerem a justiça.
Em tempos de obscuridade e de descrédito na política, o povo deve ser incentivado a garimpar os melhores quadros, que tratam e tratarão a vida pública como missão.
Com tamanha crise a castigar o país, resta a esperança de que os melhores políticos serão destacados. Por outro lado, se o eleitor for obrigado a votar por atacado, acabará elegendo no bolo os que tratam o espaço público como negócio. Desses, já estamos fartos. RANDOLFE RODRIGUES
A ruptura institucional promovida pelo presidente Nicolás Maduro configura um golpe de Estado. A Venezuela deveria ser imediatamente expulsa do Mercosul por violar a cláusula democrática, manter presos políticos, ameaçar os direitos humanos e a liberdade de imprensa (“Tribunal Supremo da Venezuela assume as funções do Legislativo”, “Mundo”, 31/3).
LUIZ ROBERTO DA COSTA JR.
Terceirização O governo brasileiro patrocina o estupro da centenária relação patrão-empregado no Brasil (sem intermediários) e depois vem com essa conversa demagógica de que está preocupado com a salvaguarda dos direitos dos trabalhadores. Isso é de um cinismo cataclísmico (“Temer volta a acenar com garantias para trabalho terceirizado”, “Mercado”, 31/3).
HELMIR ZIGOTO
Voto em lista É uma falácia equiparar o sistema político-partidário brasileiro atual ao de países desenvolvidos, onde há lista fechada, para justificar a sua implantação. Nenhum dos 35 partidos políticos existentes hoje no Brasil apresenta identidade ideológica em relação ao que apregoa. Além disso, como o cidadão irá votar em uma lista na qual figuram nomes que diariamente aparecem no noticiário investigativo (“Listas partidárias”, Tendências/Debates, 31/3)?
FRANCISCO M. DE SOUZA BRAGA
O voto em lista fechada é um indiscutível atentado à democracia. Eis que o eleitor estará votando não no candidato de sua preferência, mas nos mais do que suspeitos caciques eleitorais que dominam as respectivas legendas e que, por isso mesmo, certamente encabeçarão as listas.
No dia em que a Folha anuncia um novo Projeto Editorial, com ênfase na busca por “informações proveitosas e inspiradoras, sem prejuízo da prioridade dada ao enfoque crítico e exclusivo”, a manchete publicada (“Candidatura de Doria em 2018 ganha força no PSDB”) é requentada, inconsistente e longe de ser a mais relevante. Que o projeto seja realmente lido e absorvido pela empresa!
WELTON TRINDADE
Parabéns pela nova proposta e, principalmente, pelo destaque dado à credibilidade da notícia, à importância de os leitores confiarem na informação. É um momento em que todos estamos preocupados com as notícias falsas veiculadas nas redes sociais. Jornais e revistas têm a obrigação de batalhar contra os “fatos alternativos”. A Aner está muito preocupada com o tema, tanto que está organizando o fórum “O papel da mídia brasileira na era da pósverdade”, no próximo dia 4/4, em São Paulo. Estão convidados.
MARIA CÉLIA FURTADO,
Costumo ler a Folha porque há muito publica o pensamento de todos. Gosto de ler não apenas o que me conforta mas também o que me incomoda. Às vezes fico até bem importunado com alguns articulistas e cartas de leitores. Entretanto, conhecer o que pensa o adversário nos prepara melhor para o embate. Ficamos sabendo até onde vai a ignorância de alguns e a esperteza de outros.
PAULO M. GOMES LUSTOZA
Gostaria de parabenizar a Folha pelo novo Projeto Editorial, que, com certeza, irá proporcionar um grande avanço ao jornalismo brasileiro.