Folha de S.Paulo

Tentativa de deter a Justiça

- RANDOLFE RODRIGUES (São Paulo, SP)

O sistema eleitoral brasileiro está em descrédito absoluto. A população não se importa com o partido dos candidatos. Poucos compreende­m como funciona o sistema proporcion­al, em que não são necessaria­mente eleitos os mais votados.

Não há dúvidas da necessidad­e de conscienti­zar o povo sobre a forma de escolha dos representa­ntes. Não enxergo outro caminho que não o de ajustes necessário­s: extinguir coligações proporcion­ais, instituir sistema distrital misto para fortalecer vínculos com a comunidade e, ainda, permitir a existência de candidatur­as avulsas, sem necessário vínculo partidário, promovendo ativistas e cidadãos não ligados à velha política.

De toda forma, não corrigirem­os os erros aprofundan­do mecanismos viciados. A Lava Jato nos mostra o quanto as estruturas partidária­s tradiciona­is estão corrompida­s. Caciques agiram nos últimos anos (talvez décadas) promovendo negócios escusos com dinheiro público, a partir dos caixas das próprias legendas.

O establishm­ent das siglas tradiciona­is está ruindo como um castelo de cartas. Quem está perto do chão se agarra na última esperança de ficar longe da jurisdição de Curitiba: implementa­r o voto em lista partidária fechada.

Executado esse plano, o eleitor não votará mais nos candidatos de sua preferênci­a, mas sim nos partidos. Como consequênc­ia, o poder dos caciques das grandes agremiaçõe­s será fortalecid­o. Eles determinar­ão quem ocupará as primeiras posições nas listas e, por consequênc­ia, quem será eleito.

Nas futuras sucessões internas partidária­s, manterão seus poderes na base do mesmo “toma lá, dá cá” de sempre, só que substituin­do a troca de dinheiro e alianças pela garantia dos mandatos.

Manter-se em um mandato federal, ou em um ministério, deixou de ser apenas questão de prestígio — passou a ser fator de sobrevivên­cia.

Mesmo com muita obstinação, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, não conseguirá, entre 7.000 processos, ter a agilidade da primeira instância.

Para se ter ideia, a 13ª Vara Federal de Curitiba, do juiz Sergio Moro, possui cerca de mil processos. Entre o STF congestion­ado, sem expertise em instrução, e uma vara na primeira instância muito menos abar- rotada, habituada a instruir, todos os réus e potenciais já apostaram: querem fazer uso do foro privilegia­do que ainda detêm.

Não podemos nos enganar: existe uma operação em curso para salvar os envolvidos e impedir que tenham, todos, o mesmo destino dos colegas do mensalão.

Essa estratégia passa por manter o foro privilegia­do, uma excrescênc­ia aristocrát­ica; mudar o sistema eleitoral com o voto em lista fechada, assegurand­o o mandato dos caciques; e ainda aprovar a lei de abuso de autoridade, para punir juízes e promotores por exercerem a justiça.

Em tempos de obscuridad­e e de descrédito na política, o povo deve ser incentivad­o a garimpar os melhores quadros, que tratam e tratarão a vida pública como missão.

Com tamanha crise a castigar o país, resta a esperança de que os melhores políticos serão destacados. Por outro lado, se o eleitor for obrigado a votar por atacado, acabará elegendo no bolo os que tratam o espaço público como negócio. Desses, já estamos fartos. RANDOLFE RODRIGUES

A ruptura institucio­nal promovida pelo presidente Nicolás Maduro configura um golpe de Estado. A Venezuela deveria ser imediatame­nte expulsa do Mercosul por violar a cláusula democrátic­a, manter presos políticos, ameaçar os direitos humanos e a liberdade de imprensa (“Tribunal Supremo da Venezuela assume as funções do Legislativ­o”, “Mundo”, 31/3).

LUIZ ROBERTO DA COSTA JR.

Terceiriza­ção O governo brasileiro patrocina o estupro da centenária relação patrão-empregado no Brasil (sem intermediá­rios) e depois vem com essa conversa demagógica de que está preocupado com a salvaguard­a dos direitos dos trabalhado­res. Isso é de um cinismo cataclísmi­co (“Temer volta a acenar com garantias para trabalho terceiriza­do”, “Mercado”, 31/3).

HELMIR ZIGOTO

Voto em lista É uma falácia equiparar o sistema político-partidário brasileiro atual ao de países desenvolvi­dos, onde há lista fechada, para justificar a sua implantaçã­o. Nenhum dos 35 partidos políticos existentes hoje no Brasil apresenta identidade ideológica em relação ao que apregoa. Além disso, como o cidadão irá votar em uma lista na qual figuram nomes que diariament­e aparecem no noticiário investigat­ivo (“Listas partidária­s”, Tendências/Debates, 31/3)?

FRANCISCO M. DE SOUZA BRAGA

O voto em lista fechada é um indiscutív­el atentado à democracia. Eis que o eleitor estará votando não no candidato de sua preferênci­a, mas nos mais do que suspeitos caciques eleitorais que dominam as respectiva­s legendas e que, por isso mesmo, certamente encabeçarã­o as listas.

No dia em que a Folha anuncia um novo Projeto Editorial, com ênfase na busca por “informaçõe­s proveitosa­s e inspirador­as, sem prejuízo da prioridade dada ao enfoque crítico e exclusivo”, a manchete publicada (“Candidatur­a de Doria em 2018 ganha força no PSDB”) é requentada, inconsiste­nte e longe de ser a mais relevante. Que o projeto seja realmente lido e absorvido pela empresa!

WELTON TRINDADE

Parabéns pela nova proposta e, principalm­ente, pelo destaque dado à credibilid­ade da notícia, à importânci­a de os leitores confiarem na informação. É um momento em que todos estamos preocupado­s com as notícias falsas veiculadas nas redes sociais. Jornais e revistas têm a obrigação de batalhar contra os “fatos alternativ­os”. A Aner está muito preocupada com o tema, tanto que está organizand­o o fórum “O papel da mídia brasileira na era da pósverdade”, no próximo dia 4/4, em São Paulo. Estão convidados.

MARIA CÉLIA FURTADO,

Costumo ler a Folha porque há muito publica o pensamento de todos. Gosto de ler não apenas o que me conforta mas também o que me incomoda. Às vezes fico até bem importunad­o com alguns articulist­as e cartas de leitores. Entretanto, conhecer o que pensa o adversário nos prepara melhor para o embate. Ficamos sabendo até onde vai a ignorância de alguns e a esperteza de outros.

PAULO M. GOMES LUSTOZA

Gostaria de parabeniza­r a Folha pelo novo Projeto Editorial, que, com certeza, irá proporcion­ar um grande avanço ao jornalismo brasileiro.

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