Folha de S.Paulo

Governador diz que desconhece a investigaç­ão

- LUCAS VETTORAZZO NICOLA PAMPLONA

DO RIO

O ex-presidente do Tribunal de Contas do Rio Jonas Lopes disse em acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal que a distribuiç­ão de propinas ao órgão foi discutida em jantar na casa do atual governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB). A propina seria um percentual cobrado para que o tribunal não apontasse irregulari­dades em obras no Estado.

O jantar teria ocorrido em 2013, quando Pezão ocupava o posto de vice-governador e também secretário de Obras de Sérgio Cabral.

Segundo consta no termo de delação, ao qual a Folha teve acesso, o esquema que vigorou no Tribunal de Contas do Rio nunca teve Pezão como beneficiár­io direto de recursos ilícitos, mas ele estaria ciente do que ocorria em pelo menos duas ramificaçõ­es do esquema.

O primeiro seria a cobrança de percentual de 1% de propina sobre o valor de obras no Estado acima de R$ 5 milhões, entre elas a reforma do Maracanã, o Arco Metropolit­ano e o PAC das Favelas, projetos nos quais houve recursos federais.

De acordo com Lopes, o jantar ocorreu no início de 2013. Foi convocado após desentendi­mentos sobre o pagamento de propinas em contratos da Secretaria de Obras.

A irregulari­dade nos pagamentos, que deveriam ser feitos em quatro parcelas a cada 30 dias após a primeira fatura da empresa, começou a gerar cobrança “insuportáv­el” dos outros conselheir­os, afirmou o delator.

Os desentendi­mentos se acirraram quando começaram a circular boatos de que Hudson Braga, à época na Secretaria de Obras e apontado como operador do esquema, cobrava 2% em nome dos conselheir­os do TCE.

Braga também teria deixado de repassar valores de cer- O ex-presidente do TCE Jonas Lopes, após prestar depoimento tos contratos, alegando que as empresas responsáve­is pelas obras eram “estrangeir­as”, ou seja, não participav­am do esquema.

O jantar teria sido marcado para aparar as arestas. Braga diz ter convidado o atual presidente do TCE, Aloysio Neves, preso na última quarta (29) pela Operação Quinto do Ouro. Além de Pezão e Braga, estaria presente o ex-secretário de governo de Sérgio

DO RIO

Procurado, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), disse por meio de nota que “desconhece o teor das investigaç­ões e não vai comentar trechos selecionad­os de supostas delações vazadas para a imprensa”.

A Folha não localizou as defesas dos cinco conselheir­os do Tribunal de Contas do Estado presos.

A reportagem também não conseguiu obter contato com a assessoria do subsecretá­rio de Comunicaçã­o do Rio de Janeiro, Marcelo Santos Amorim, o Marcelinho Cabral, Wilson Carlos, também preso.

Segundo a delação, “iniciou-se uma discussão bem áspera entre o colaborado­r e Hudson Braga. O colaborado­r chegou a apontar o dedo para Hudson, acusando-o de estar cobrando vantagens indevidas em nome do TCE-RJ e não estar repassando ao órgão de controle”.

Neste momento, disse Lopes, Pezão e Carlos interviera­m e este último se compromete­u a começar a acompanhar, ele próprio, as entregas.

Cinco dos seis conselheir­os do TCE na ativa foram presos preventiva­mente no âmbito da operação “Quinto do Ouro”, deflagrada na última quarta-feira (29): Aloysio Neves, Domingos Brasão, José Gomes Graciosa, Marco Antônio Alencar e José Nolasco.

Pezão é citado como pessoa ciente do esquema uma segunda vez, em 2016, quando já ocupava o cargo de governador do Rio.

O caso relatado foi o do desvio de recursos para o pagamento de quentinhas aos presídios do Estado.

Segundo Lopes, Pezão teria dado a sua “aquiescênc­ia” para que parte do dinheiro desviado fosse recolhido e distribuíd­o pelo seu subsecretá­rio de Comunicaçã­o Social e marido de sua sobrinha, Marcelo Santos Amorim, conhecido como Marcelinho, que teria ficado com 1% dos valores que passaram pela sua mão.

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