Maduro vê independência de poderes e diz que direita quer ‘incendiar país’
DE SÃO PAULO
Após quase 48 horas de silêncio sobre a decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela de assumir as funções da Assembleia Nacional, o presidente Nicolás Maduro disse nesta sextafeira (31) que “há poderes legítimos e constitucionais” no país e que a “direita nacional e internacional” busca “montar um show para incendiar nosso país”.
Além do recado à oposição, Maduro também deu uma resposta à procuradora-geral, Luisa Ortega, que mais cedo havia classificado a sentença do TSJ de “ruptura da ordem constitucional”.
O anúncio de Ortega foi recebido com surpresa, pois a procuradora era tradicionalmente ligada ao chavismo.
O presidente disse que não teve conhecimento prévio so- bre a decisão do TSJ nem sobre a posição de Ortega.
Além disso, Maduro afirmou que as divergências entre o Ministério Público e o Judiciário demonstram que há plena separação de poderes na Venezuela. “Cada poder atua conforme a Constituição e sua consciência”, disse.
O líder chavista convocou para a noite desta sexta uma reunião do Conselho Nacional de Segurança para discutir o “impasse” entre poderes. O resultado da sessão não havia sido divulgado até a conclusão desta edição.
Maduro também afirmou que vai a um encontro da Alba (aliança formada por governos bolivarianos) na semana que vem, em Cuba.
A declaração da procuradora-geral foi comemorada pela oposição. Deputados entregaram ao Ministério Público um pedido de investigação contra os juízes do TSJ, acusando-os de ter “sequestrado os direitos do povo”.
O deputado opositor Freddy Guevara, vice-presidente da Assembleia Nacional, con- clamou as demais instituições do país, inclusive as Forças Armadas, a “imitar” a procuradora, posicionandose contra a sentença do TSJ.
“A ditadura só vai cair quando aqueles que lhe dão apoio por meio das instituições passarem para o lado do povo”, afirmou Guevara.
Em Caracas, manifestantes bloquearam ruas nesta sexta para protestar contra a manobra do TSJ. A oposição convocou novos atos para este sábado (1º). REPÓRTER AGREDIDA Policiais agrediram a jornalista venezuelana Ely Angélica González, correspondente da rádio colombiana Caracol, enquanto ela fazia a cobertura de protestos diante do prédio do TSJ.
Em nota, a Chancelaria da Colômbia classificou o caso de “ataque à liberdade de expressão”. O presidente Juan Manuel Santos, que defendia ma reaproximação com Caracas, mudou o tom e disse que tirar os poderes do Legislativo é ‘inaceitável’.