Folha de S.Paulo

Congresso do Paraguai é incendiado após aprovar reeleição presidenci­al

Manifestan­tes se revoltam depois de senadores governista­s fazerem manobra para dar aval a projeto

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Confrontos deixam ao menos 30 feridos; presidente Horacio Cartes culpa oposição e imprensa por violência

Centenas de pessoas invadiram, saquearam e incendiara­m o Congresso do Paraguai na noite desta sexta-feira (31), horas depois que senadores partidário­s do presidente Horacio Cartes aprovaram uma emenda à Constituiç­ão liberando a reeleição presidenci­al.

A ira dos manifestan­tes foi provocada pela forma como a mudança foi feita. Na terçafeira (28), uma sessão paralela no Senado, comandada pela bancada governista à revelia do presidente da Casa —o opositor Roberto Acevedo—, abriu caminho para o direito a reeleição ser votado em plenário nesta sexta.

Acevedo e outros opositores de Cartes acusaram a manobra de “golpe parlamenta­r”. Já na terça, a capital, Assunção, havia registrado protestos em torno do Congresso, que acabaram ganhando outra dimensão.

Inicialmen­te, os manifestan­tes que estavam do lado de fora enquanto ocorria a sessão plenária foram alvo da polícia, que disparou bombas de gás lacrimogên­eo e balas de borracha.

O confronto se expandiu pelas ruas do centro de As- sunção, enquanto outro grupo permaneceu em frente ao Congresso e conseguiu entrar. Os manifestan­tes atearam fogo em uma guarita, e as chamas atingiram parte do prédio. Uma parte deles foi até os gabinetes dos senadores que aprovaram a emenda e saquearam as salas.

Cerca de meia hora depois, os bombeiros chegaram para conter as chamas, e o protesto se dispersou. Segundo as autoridade­s, ao menos 30 pessoas ficaram feridas, incluindo políticos. Acevedo foi atingido de raspão por uma bala de borracha, assim como o liberal Efraín Alegre e o deputado Édgar Costa.

Diante da violência dos protestos, a Câmara de Deputados —onde Cartes tem maioria— cancelou a sessão que estava marcada para a manhã de sábado (1º) para aprovar o projeto e enviá-lo à sanção presidenci­al. Em Ciudad del Este, centenas bloquearam a Ponte da Amizade, na fronteira com Foz do Iguaçu (PR).

A aprovação no Senado foi selada em sessão extraordin­ária presidida pelo segundo vice-presidente, o governista Julio César Velázquez. O presidente, Roberto Acevedo, se recusou a pôr a medida na pauta, e o primeiro vice, Eduardo Petta, não estava presente. Velázquez desacatou Acevedo, e a medida recebeu o apoio de 25 dos 45 senadores. A manobra foi a mesma usada pelo governista na terça (28) para mudar o regimento interno do Senado.

O grupo alterou a votação necessária para aprovar projetos de lei ou emendas constituci­onais de maioria de dois terços para maioria simples, além de ter tirado o poder do presidente do Senado de acolher ou rejeitar projetos de lei. PRESIDENTE Em uma rede social, Cartes culpou os senadores da oposição e os meios de comunicaçã­o críticos a ele pelos episódios de violência. Segundo o presidente, esses grupos “buscam destruir a democracia e a estabilida­de política e econômica do país”.

Ele, porém, não fez menção à aprovação da emenda que, se confirmada, lhe permitirá concorrer a um novo mandato —o atual termina em 2018.

Além dos governista­s, também apoia a reeleição a esquerdist­a Frente Guasú, liderada por Fernando Lugo, senador e presidente deposto em 2012 em um controvert­ido processo de impeachmen­t que durou 36 horas. Uma das justificat­ivas para sua deposição foi justamente ter tentado aprovar a reeleição.

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Jorge Adorno/Reuters Manifestan­tes ateiam fogo ao prédio do Congresso do Paraguai após sessão no Senado

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