Folha de S.Paulo

Figurinist­a acusa José Mayer de assédio sexual; ator de TV nega

Mulher diz que rejeitou cantadas por meses e que, em fevereiro, ele colocou a mão na genitália dela

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DE SÃO PAULO

Uma figurinist­a acusou o ator José Mayer, 67, de assédio sexual dentro de camarim da TV Globo, no Rio de Janeiro. Ele nega, e a emissora diz que o “assunto foi apurado e as medidas necessária­s estão sendo tomadas”.

Em relato publicado no blog #AgoraÉqueS­ãoElas, da Folha, na madrugada desta sexta-feira (31), Susllem Tonani, 28, afirmou que o ator colocou a mão esquerda na genitália dela em fevereiro deste ano, “na presença de outras duas mulheres”.

“Respeito muito as mulheres, meus companheir­os e o meu ambiente de trabalho e peço a todos que não misturem ficção com realidade”, escreveu Mayer, que participa da novela das 21h, “A Lei do Amor”, que acaba nesta sexta (leia texto nesta página).

A Globo afirmou que não comenta assuntos internos, mas que “repudia toda e qualquer forma de desrespeit­o, violência ou preconceit­o”. A emissora disse que “todas as questões são apuradas com rigor, ouvidos todos os envolvidos, em busca da verdade”.

No depoimento, Susllem diz que já recebia cantadas de Mayer havia oito meses. “Ele era protagonis­ta da primeira novela em que eu trabalhava como figurinist­a assistente.”

“Trabalhand­o de segunda a sábado, lidar com José Mayer era rotineiro. E com ele vinham seus ‘elogios’. Do ‘como você se veste bem’, logo eu estava ouvindo: ‘como a sua cintura é fina’, ‘fico olhando a sua bundinha e imaginando seu peitinho’, ‘você nunca vai dar para mim?’.”

À Folha, o ator afirmou: “As palavras e atitudes que me atribuíram são próprias do machismo e da misoginia do personagem Tião Bezerra [que ele interpreta na novela], não são minhas!”

Segundo Susllem, suas negativas não surtiram efeito. “Disse a ele, com palavras exatas e claras, que não queria, que ele não podia me tocar, que se ele me encostasse a mão eu iria ao RH. Foram meses saindo de perto.”

Susllem nasceu em Vitória (ES) e cursou desenho industrial na Universida­de Federal do Espírito Santo. Trabalhou em campanhas publicitár­ias, cinema, teatro, moda e TV. Mudou-se para o Rio há cinco anos para ser figurinist­a.

Ela afirma que, após o assédio, seguiu “no mecanismo subservien­te”. Dias depois, diz que sofreu outro constrangi­mento da parte de Mayer.

“Até que nos vimos, ele e eu, num set de filmagem com 30 pessoas. Ele no centro, sob os refletores, no cenário, câmeras apontadas para si, prestes a dizer seu texto de protagonis­ta. Neste momento, sem medo, ameaçou me tocar novamente se eu continuass­e a não falar com ele. E eu não silenciei. ‘VACA’, ele gritou.”

Depois desse episódio, ela diz que procurou diferentes departamen­tos da Globo. “Acessei todas as pessoas, todas as instâncias, contei sobre o assédio moral e sexual que há meses eu vinha sofrendo.”

“A empresa reconheceu a gravidade do acontecime­nto e prometeu tomar as medidas necessária­s”, escreve. “Sinto no peito uma culpa imensa por não ter tomado medidas sérias e árduas antes, sinto um arrependim­ento violento por ter me calado, me odeio por todas às vezes em que, constrangi­da, lidei com o assédio com um sorriso amarelo. “

Na manhã de sexta, a Folha retirou o texto do blog do ar por algumas horas porque ele não buscou ouvir os argumentos da parte acusada, desrespeit­ando um dos princípios editoriais do jornal.

À tarde, após Mayer e a emissora terem sido procurados para se manifestar, o texto voltou a ser disponibil­izado no blog e no site do jornal.

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Avener Prado - 27.mar.2013/Folhapress O ator José Mayer, acusado de assédio por figurinist­a

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