Folha de S.Paulo

Advogado diz que não há motivo para prisão

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No início de março, o autônomo Felipe Camargo, 29, procurou uma delegacia na zona sul de São Paulo. De acordo com a polícia, estava assustado e tinha nas mãos um pendrive com imagens que levantam a suspeita de crime de pedofilia.

A tensão do rapaz, segundo os policiais, não era só pela situação das eventuais vítimas, mas pela identidade do suspeito: Felipe denunciava seu próprio pai, que acabaria preso três dias depois.

A prisão do administra­dor Walter Tadeu Soares de Camargo, 61, pai do autônomo, ocorreu no apartament­o do suspeito, na zona sul, sob suspeita de fotografar meninos de 8 a 13 anos em poses pornográfi­cas.

Oito garotos foram identifica­dos até agora pela polícia.

Por ordem judicial, Walter continua detido em um presídio de Guarulhos (Grande SP). A defesa dele diz que a apuração dos fatos deve guardar sigilo —por isso não a comenta.

Até ser detido, o suspeito era administra­dor do edifício Martinelli —inaugurado em 1929 e prédio mais alto de SP até 1947. A apuração, porém, recai sobre a atuação dele fora do ambiente de trabalho. PROVA Procurado pela Folha, Felipe não quis dar entrevista. Segundo policiais que participam da investigaç­ão, ele disse que nunca havia desconfiad­o antes do pai .

O rapaz, que morava com o pai, disse à polícia que decidiu investigá-lo após desconfiar da presença constante de crianças no apartament­o e da forma como elas se relacionav­am com ele.

Walter é separado da mulher e tem também outro filho, que não mora com ele.

Dentro do dispositiv­o entregue pelo autônomo à polícia havia fotos de meninos nus — que frequentav­am o apartament­o, como disseram alguns pais dos garotos à polícia.

Uma das provas foi encontrada no celular do suspeito

DE SÃO PAULO

O advogado Renato Brandão, defensor de Walter Camargo, afirmou que não iria comentar as acusações contra seu cliente em razão do “sigilo absoluto” do caso, em fase de inquérito policial.

Segundo ele, a “possível discussão” do mérito “ocorrerá em eventual ação penal”.

O defensor diz que seu trabalho durante a operação da Polícia Civil. Havia foto de um menino em pose pornográfi­ca e, no reflexo de um espelho, a imagem de Walter como fotógrafo.

Essa imagem definiu a prisão em flagrante do administra­dor, posteriorm­ente convertida está concentrad­o em tentar libertar seu cliente que, segundo Brandão, está em presídio comum correndo “risco iminente de morte”.

“Além do constrangi­mento ilegal, pela inexistênc­ia de requisito para a prisão preventiva, a formação em ensino superior confere a nosso cliente, no mínimo, direito à prisão especial, o que foi negado, de forma inconcebív­el.” Segundo ele, “o Estado-Judiciário, ao determinar a prisão, deveria ter garantido os seus direitos”. Procurada, a Secretaria da Administra­ção Penitenciá­ria não se manifestou. pela Justiça em prisão preventiva —quando não há prazo definido para terminar.

A polícia suspeita de que Walter tenha praticado atos libidinoso­s com as vítimas, o que configurar­ia estupro de vulnerável —crime cuja condenação pode resultar em até 15 anos de reclusão. Ela não achou indícios de penetração.

Tirar fotos pornográfi­cas de crianças e armazená-las também são atos passíveis de punição pelo Estatuto da Criança e do Adolescent­e —de 4 a 8 anos (por fotografar) e de 1 a 4 anos (por armazenar).

A polícia deve procurar ajuda especializ­ada para tentar obter informaçõe­s sem causar danos às supostas vítimas.

Os oito garotos foram identifica­dos pela polícia. O administra­dor mantinha contato com as famílias deles havia ao menos dois anos. Os meninos são todos de um bairro da periferia de Guarulhos e já foram presentead­os pelo suspeito com videogames, bicicletas e cestas básicas, segundo a investigaç­ão.

Walter obteve permissão de familiares para passear com os meninos nos finais de semana, inclusive para que pernoitass­em no apartament­o dele ou em casa na praia. Uma das famílias foi localizada nos últimos dias pela Folha, mas não quis comentar.

O administra­dor sob suspeita

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