DOUTORA CONTRA O PRECONCEITO
Travesti e negra, educadora conquista o grau de doutora na Universidade Federal do Paraná com tese sobre homofobia e racismo nas escolas
dali, sou só uma travesti, que pode ser agredida, ofendida. Minha presença ainda não é naturalizada. Hoje, eu sou professora da UFPR. Mas o espaço que me sobra é no serviço público, porque a iniciativa privada não contrata.
A minha pesquisa de doutorado foi feita com quatro professores negros homossexuais, de ensino fundamental e médio, sobre a resistência de gays e negros na educação. São existências marcadas pelo enfrentamento.
Num primeiro momento, eles tentaram negar sua sexualidade. Depois, esses xingamentos de “viado”, “bicha preta”, foram ressignificados de forma positiva. “Sou viado, sou bicha preta, mesmo, e daí?” Isso desmonta seu agressor. Todos entendem que a vida acadêmica possibilitou esse empoderamento. E a presença deles na escola acaba sendo um modelo de existência para os estudantes.
A defesa da minha tese não é uma conquista individual. É coletiva. Do movimento negro e principalmente de travestis e transexuais. Porque, para nós, a saúde sempre foi o foco da militância, pelo acesso ao tratamento hormonal, à cirurgia de readequação genital. A educação passou a ser pleiteada há pouco tempo.
A gente quer ter voz, queremos ser tratadas como pessoas que pensam e produzem conhecimento. É uma possibilidade de mudar a postura dentro das escolas e tornar a existência dos LGBTs menos sofrida. A educação possibilita essa mudança.