Folha de S.Paulo

CRÍTICA Leveza vira superficia­lidade em drama nacional

Em ‘A Glória e a Graça’, personagen­s são prejudicad­as por inconsistê­ncias de trama que acaba caindo no artificial­ismo

- ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ AVALIAÇÃO S

FOLHA

Produtor de sucesso e realizador bissexto, Flávio Ramos Tambellini volta à direção com este drama sobre dois assuntos atuais e delicados: o reordename­nto familiar e a diversidad­e sexual.

Ao tentar tratá-los de maneira leve, no entanto, o longa acaba sendo superficia­l.

A trama gira em torno da relação entre a massoterap­euta Graça (Sandra Corveloni) e sua irmã Glória (Carolina Ferraz), travesti dona de um badalado restaurant­e.

Elas retomam o contato depois de 15 anos de rompimento, ocorrido quando Glória ainda era Luiz Carlos.

A iniciativa da reaproxima­ção —tomada com relutância— é de Graça, quando fica sabendo que tem um aneurisma e pode morrer a qual- ruim regular quer momento.

Ela não tem nenhum familiar com exceção de Glória para exercer a guarda dos dois filhos, Papoula (Sofia Marques), de 15 anos, e Moreno (Vicente Demori), de 8.

A escolha de Carolina Ferraz para o papel do travesti num filme que fala de transexual­idade é um contrassen­so. Ela faz um trabalho satisfatór­io, mas perdeu-se uma rara ocasião para dar visibilida­de a um ator travesti, algo muito mais coerente. As duas figuras centrais são prejudicad­as por clichês e inconsistê­ncias.

Mãe solteira, Graça tem jeito de alternativ­a, como indicam sua profissão e o nome dos filhos. Apesar disso, em vários momentos expressa pontos de vista retrógrado­s, mostrando dificuldad­e em aceitar as escolhas de Glória e preocupaçã­o que esta eduque o filho como se fosse mulher.

Por seu lado, se Glória rompe os padrões sendo uma empresária de sucesso, tem aquela exuberânci­a caricatura­l nos gestos e no falar.

À medida que avança, a história cai no artificial­ismo, ganhando contornos melodramát­icos, enquanto Glória entra em estado de graça e passa a ocupar lugar central.

Os acontecime­ntos se precipitam: Glória explicita sua mágoa com a irmã, passa a ter uma relação cheia de compreensã­o com Papoula e Moreno —algo que a mãe é incapaz de construir— e finalmente conhece o amor de sua vida. Tudo para enternecer e confortar o espectador. DIREÇÃO Flávio Ramos Tambellini ELENCO Carolina Ferraz, Sandra Corveloni, Sofia Marques PRODUÇÃO Brasil, 2017, 14 anos AVALIAÇÃO regular

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Divulgação Glória (Carolina Ferraz) é travesti dona de um badalado restaurant­e no longa nacional

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