Folha de S.Paulo

Se Temer perde, quem ganha?

- VINICIUS TORRES FREIRE

SUPONHA-SE QUE dê tudo certo na economia, segundo planos e critérios do governo Michel Temer. Ou não. O que pode ser da política, no mês que vem ou em 2018?

As ameaças do próprio PMDB de pular do barco dão o que pensar sobre o roteiro do destino até faz pouco tempo risonho e franco do presidente que “aprovava tudo” no Congresso. Um governo “semiparlam­entarista”, que teria maioria firme porque loteara os ministério­s na medida do tamanho dos partidos de sua coalizão, de resto uma aliança ideologica­mente coesa, de conservado­ra a reacionári­a.

Suponha-se a hipótese “vai dar certo”.

Nesse prognóstic­o, aprovam-se a reforma da Previdênci­a e, ora menos relevante, a trabalhist­a, que causam medo ou raiva em quase qualquer pessoa com quem se converse na rua. A economia cresceria um minguado mas inesperado 1% neste ano e gordos 4% no ano eleitoral de 2018, com inflação e juros declinante­s. Não é chute. São as previsões dos economista­s do Itaú, por exemplo.

Muito parlamenta­r do PMDB parece por ora indiferent­e a esse cenário. Do PMDB de Temer, da “Ponte para o Futuro”, e do “Avança, Brasil”, de Renan Calheiros, programas liberais que encheram a linguiça da coalizão que depôs Dilma Rousseff.

Quase metade do PMDB se negou a votar a terceiriza­ção. Calheiros, homem-bomba, avacalha Temer em público e nas internas. Não se sabe bem o que quer ou quantas tropas tem. Mas Calheiros e o refugo da terceiriza­ção azedaram ainda mais a votação das reformas. Deram ideias para aliados: se até o PMDB se escafede, por que queimar o filme votando projetos detestados?

Neste momento, a “sólida coalizão” de Temer não parece associar seu futuro ao sucesso do governo. Alguns peemedebis­tas o dizem explicitam­ente, nas internas.

A melhora da economia talvez não se converta em ativo eleitoral, dizem, pois Temer não vai liderar sua sucessão em 2018, não apenas por ser impopular ou por tocar reformas amargas e comandar enrolados de escol na Lava Jato.

Além do mais, segue o raciocínio do desencanto, um refresco no PIB não apagaria a memória azeda de três anos de recessão, que também ficaria carimbada nos governista­s mais autênticos. Um candidato viável a presidente viria do PSDB ou do espaço exterior da política politiquei­ra, um “outsider” sideral, com ou sem economia melhor.

Política é feita de nuvens, certo, que ora são escuras, mas podem se dissipar. No momento, porém, o clima no Congresso está muito ruim, para surpresa também deste jornalista. Temer está à beira de passar as tropas em revista as ameaçando de tiros na cabeça em caso de motim.

Caso o tempo feche de vez, ninguém será vitorioso em 2018.

Mesmo sem pânico financeiro pela derrota das “reformas”, a perspectiv­a de cresciment­o baixaria. O presidente tomaria posse em 2019 para governar sob penúria, sem dinheiro. Aliás, até no cenário de reformas aprovadas e cresciment­o bom haveria refresco nas contas federais apenas em 2021.

O alerta vale também para a esquerda, que deve pensar melhor no que deseja. Na hipótese de contribuir para a ruína de Temer e suas reformas e, mais improvável, de vencer 2018, terá de governar uma terra arrasada e um povo com expectativ­as irrealista­s de reviravolt­a econômica e social.

Parte do PMDB rejeita reformas e dá mau exemplo; derrota de Temer seria ruim até para a esquerda

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