De mestre a trapalhadas, estas em geral movidas por paixão e/ou por apego à imagem.
NOVA YORK Peres perdeu o pai, político em Leopoldina, num acidente de avião. Sua mãe casou-se com Sylvio Hoffman, jogador que defendeu a seleção na Copa de 34 e que fundaria o La Fiorentina em 1957.
Em 2000, quando o restaurante estava fechado havia dez anos, Catito comprou e reativou o espaço do Leme, famoso por reunir a boêmia artística carioca.
Foi sua primeira investida na noite. Já havia morado em Nova York, onde estudou administração bancária, trabalhou no Banco Nacional, namorou Andréa Neves, irmã de Aécio, e dividiu apartamento com o ex-ministro das Comunicações Hélio Costa.
De volta ao Brasil, comprou a preço simbólico, no início dos anos 1990, a empresa de navegação Netumar, que estava falida. O então herdeiro da empresa, Carlos Leal, hoje não fala com Peres. Procurado, não quis dar entrevista. Amigos em comum dizem que Leal se queixa de uma dívida não paga, que Peres nega existir.
Seu primeiro grande lance na indústria naval o credenciou a outro que lhe traria mais dinheiro: a compra, em 1996, do estaleiro Mauá, que também estava quebrado.
Diz ter pago R$ 1 pelos despojos do Mauá e que vendeu o estaleiro, seis anos depois (em 2002), por US$ 30 milhões. Um desafeto calcula que foi pela metade disso.
O comprador foi Germán Efromovich, que viraria principal acionista da Avianca, de quem até hoje é amigo e a quem se associou para construir um hotel “seis estrelas” na avenida Atlântica, no Rio.
O plano do hotel, porém, naufragou —Peres diz que só valia a pena se construíssem até 2015, para aproveitar benefícios dados pela prefeitura graças à Olimpíada.
O Mauá voltou a quebrar em 2015 e, assim como o Eisa (outro estaleiro de Efromovich, que Peres tentou, sem sucesso, ajudar a recuperar), responde a ações de milhares de trabalhadores demitidos sem indenização. Quem responde por elas é o grupo Synergy, de Efromovich. JUIZ DE FORA Em 2003, Omar Peres passou a morar e investir em Juiz de Fora. A experiência durou sete anos e nela o empresário acumulou desafetos e uma boa parcela das histórias mirabolantes de sua biografia.
Comprou uma emissora da TV Globo e um diário. Qual um Fitzcarraldo da zona da mata mineira, tentou fazer ali um jornal de ponta, o “Panorama”: levou um time de jornalistas experientes do Rio, de BH e da região, liderado pelo alemão-carioca Fritz Utzeri. Em poucos meses, o jornal mudou de formato, teve deserções e passou a ser distribuído gratuitamente. Durou cinco anos, mas menos de um sob o projeto original.
“Foi o maior sucesso entre meus fracassos”, brinca Peres. Na memória de gente da cidade, foi só um fracasso.
Com a TV ele afirma ter feito dinheiro. Vendeu a retransmissora em duas partes, em 2010 e 2012, por um total, diz, de R$ 100 milhões.
Em Juiz de Fora também assumiu um time de futebol, o Tupi, e contratou Romário. E vem da época alguns dos processos e condenações que acumula, especialmente relacionados à sua atuação política.
Foram desse período 3 das suas 4 candidaturas derrotadas: a senador, pelo PDT, em 2006 (389,9 mil votos); a prefeito de Juiz de Fora, pelo PV, em 2008 (17,6 mil votos); e a deputado federal, pelo PSL, em 2010 (20,6 mil votos).
Indicado por Leonel Brizola, Peres foi secretário estadual de Indústria e Comércio de Minas durante o governo de Itamar Franco (1999-2003).
Entre as ações de indenização por dano moral em que foi condenado, uma foi movida pela empreiteira Queiroz Galvão, que acusou de corrupção e conluio com um politico local (“tenho orgulho de uma condenação assim”). ARTISTAS Com 1,88 m, bochechas pronunciadas e costeletas bastas, Catito Peres é afável e gentil. O gosto pela festa o aproximou dos artistas que frequentam a Fiorentina —atraídos em parte pelo apoio dado pela casa a espetáculos teatrais.
Em vídeo publicado numa rede social, o ator Tonico Pereira saudou Peres como “visionário”, “empresário progressista” e encerrou o depoimento em tom retumbante: “Salve Omar Catito Peres, salve a volta do nosso ‘JB’”.
Ao que tudo indica, não será pelas mãos de Peres que o “JB” voltará. Mas, por defender que “o que mora na alma não morre”, o empresário seguirá na trilha do “capitalismo de símbolos culturais”.
Seu próximo alvo é o Canecão, a casa de shows que pertence à UFRJ e está sem atividades. “Comecei a me movimentar e reunir lideranças da cidade para ‘obrigar’ a universidade a devolver o espaço para a cidade”, diz Peres.
Aproveitou a noite no Piantella pra tratar do assunto com Mendonça Filho e Marco Aurélio Mello. “Estou finalizando dois projetos e me falta tempo para dedicar à causa. Mas não vou deixar passar.”