Folha de S.Paulo

Parceiros comerciais aumentam as barreiras contra produtos do Brasil

Estrangeir­os aplicaram 15 medidas contra a indústria brasileira em 2016, recorde desde 2010

- RENATA AGOSTINI Aplicadas contra o Brasil Aplicadas pelo Brasil

Desvaloriz­ação do real tornou produtos mais baratos no exterior e derrota na OMC deixou o país mais vulnerável

O número de barreiras erguidas contra produtos brasileiro­s por outros países aumentou de forma significat­iva no ano passado, atingindo o nível mais elevado observado desde o início da década.

Foram aplicadas 15 medidas de defesa comercial contra produtos brasileiro­s no ano passado, cinco vezes o número de medidas tomadas em 2015, segundo dados do Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços).

O governo acompanha os dados com apreensão, num momento em que surgem sinais de recuperaçã­o da indústria e o país se prepara para voltar a crescer após mais de dois anos de recessão.

Das 98 investigaç­ões comerciais iniciadas contra o Brasil nos últimos sete anos, metade foi aberta em 2015 e 2016. Ou seja, é provável que haja mais decisões por vir.

Para o ministro Marcos Pereira, titular do Mdic, as ações refletem a onda protecioni­sta mundial. “Vemos aumento da retórica e das práticas protecioni­stas, que afetam nossas exportaçõe­s. O Brasil segue à risca as regras multilater­ais. Queremos assegurar que essas regras também sejam cumpridas pelos parceiros.”

Medidas de defesa comercial como as adotadas contra o Brasil são previstas pelas normas da OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio) e existem para que os países possam reagir contra práticas comerciais considerad­as desleais, como o dumping.

Ele ocorre quando produtos são vendidos no exterior a preços muito mais baixos do que os praticados no mercado de origem. O país atingido pode adotar as chamadas medidas antidumpin­g, aumentando a tarifa de importação dos bens em questão.

Até recentemen­te, o Brasil era o país que mais abria investigaç­ões contra seus parceiros. Em 2011, Dilma Rousseff (PT) iniciou ofensiva contra vários produtos importados. Mas desde 2014 houve recuo, e hoje o país está em nono lugar na lista.

A explicação está na alta do dólar, que tornou os importados mais caros, e na crise, que fez cair a demanda interna por esses produtos. Assim, a competição com os estrangeir­os passou a incomodar menos a indústria.

Por outro lado, a desvaloriz­ação do real tornou os produtos brasileiro­s mais baratos no mercado, aumentando a grita dos concorrent­es. “Não significa que os brasileiro­s estejam mais desleais. Os contextos global e do Brasil é que mudaram”, diz Ana Caetano, sócia da área de Comércio Exterior do Veirano Advogados. VULNERABIL­IDADE Para Carlos Abijaodi, diretor da CNI, o fato de a política industrial do Brasil ter sido questionad­a na OMC, que recentemen­te condenou vários programas, deixou o país mais vulnerável. “Ficamos muito na vitrine. Abriu-se um flanco para todos entrarem com medidas contra nós.”

As siderúrgic­as brasileira­s têm sido as mais atingidas —metade das restrições impostas ao Brasil desde 2010 foi direcionad­a a elas.

Tamanha pressão levou o governo a ingressar no ano passado com uma reclamação na OMC contra os EUA, que sobretaxar­am o aço brasileiro meses antes.

Depois do siderúrgic­o, os setores mais atingidos são os de papel e celulose e de plástico e borrachas. Setores exportador­es brasileiro­s mais afetados (2010-2016), em % das medidas MEDIDAS DE DEFESA

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Instalaçõe­s da CSA, no Estado do Rio; setor siderúrgic­o é o mais atingido por barreiras erguidas contra produtos brasileiro­s, seguido do de papel e celulose

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